Vejamos hoje o enquadramento à esquerda, ou melhor, à esquerda do PS.
O PCP, partido centenário, é hoje uma idiossincrasia portuguesa no seio da UE. Um partido abertamente leninista e com laivos de estalinismo, embora envergonhado, dificilmente tem lugar na Europa do século XXI onde é o populismo da direita radical que medra. Tem sido sustentado em Portugal, pela narrativa da heroica luta antifascista e pela abnegada militância sindical, sobretudo nos sectores com mais estabilidade de emprego, ou seja, nos serviços públicos. Tal como o CDS, o seu tempo parece ter passado e dificilmente recuperará a força que já teve no país.
O Bloco de Esquerda, nasceu da união, outrora contranatura, de trotskistas, maoístas e dissidentes do PCP, que desistiram de ser vanguarda do proletariado, aparentemente machista, racista, iletrado, homofóbico, etc., trocando a luta de classes pela defesa das minorias oprimidas e das causas fracturantes, abraçando voluptuosamente a pós-modernidade.
Ambos os partidos saíram traumatizados da aventura em que embarcaram quando se juntaram à direita para derrubar o governo de Sócrates, desencadeando a vinda da Troika e elevando Passos Coelho a chefe do governo. Apesar disso, pareceu ao Bloco ser-lhe favorável um afastamento do 2º governo Costa, para evitar os estilhaços provocados pela erosão económica e social provocada pela pandemia. O resultado de Marisa Matias não abona a favor da manobra. Quanto ao PCP, viu o seu candidato, João Ferreira, obter ainda menos votos do que Edgar Silva teve em 2016, apesar de ter viabilizado o OGE de 2021.
Seja como for, impressionada com a manutenção da popularidade do PS nas sondagens, que só a pandemia pode explicar, face à catadupa de trapalhadas e despautérios, a malta da esquerda à esquerda do PS, anda calma e compreensiva para com os dislates e incompetências ministeriais, como nunca julguei possível. Provavelmente, não querem ser confundidos com os “justicialistas” votantes no Ventura mas, com a sua meiguice e a sua oposição fofinha, vão alimentando o Chega de eleitores indignados.