A culpa é da bolha

Nota à la Minuta
Sexta-feira, 19 Maio 2023
A culpa é da bolha
  • Alberto Magalhães

Das duas uma: ou António Costa se serve de Galamba para provocar no Presidente da República um reflexo incontrolável de dissolução do Parlamento, ou acredita mesmo que estes ‘casos e casinhos’, que brotam constantemente do seu Governo, só importam aos que giram dentro do que ele chama a ‘bolha mediática’, sendo indiferentes à maioria dos potenciais eleitores. Lembro uma pequena história de Mário-Henrique Leiria*, sobre os jornalistas: “O Alfredo atirou o jornal ao chão, irritadíssimo, e virou-se para mim:

Estes jornalistas! Passam a vida a inventar coisas, é o que te digo. Então não afirmam que, no Sardoal, foi encontrado um frango com três pernas! Vê lá tu! É preciso ter descaramento. Ajeitou-se melhor no sofá e, realmente indignado, coçou a tromba com a pata do meio.”

Dito isto, que dizer mais, depois de dois dias dedicados ao Mi, o nome ternurento do ministério das Infraestruturas, que ontem decidi rebaptizar, para uso pessoal, ministério das Infraloucuras. À espera de pior, resta-me repetir, de Pessoa, o Nevoeiro:

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,

define com perfil e ser

Este fulgor baço da terra

Que é Portugal a entristecer —

Brilho sem luz e sem arder,

Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.

Ninguém conhece que alma tem,

Nem o que é mal nem o que é bem.

(que ânsia distante perto chora?)

Tudo é incerto e derradeiro.

Tudo é disperso, nada é inteiro.

Ó Portugal, hoje és nevoeiro…

É a Hora!

*Ficção, p.209

**Mensagem e outros poemas sobre Portugal, Assírio & Alvim, p. 116

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com