Das duas uma: ou António Costa se serve de Galamba para provocar no Presidente da República um reflexo incontrolável de dissolução do Parlamento, ou acredita mesmo que estes ‘casos e casinhos’, que brotam constantemente do seu Governo, só importam aos que giram dentro do que ele chama a ‘bolha mediática’, sendo indiferentes à maioria dos potenciais eleitores. Lembro uma pequena história de Mário-Henrique Leiria*, sobre os jornalistas: “O Alfredo atirou o jornal ao chão, irritadíssimo, e virou-se para mim:
— Estes jornalistas! Passam a vida a inventar coisas, é o que te digo. Então não afirmam que, no Sardoal, foi encontrado um frango com três pernas! Vê lá tu! É preciso ter descaramento. Ajeitou-se melhor no sofá e, realmente indignado, coçou a tromba com a pata do meio.”
Dito isto, que dizer mais, depois de dois dias dedicados ao Mi, o nome ternurento do ministério das Infraestruturas, que ontem decidi rebaptizar, para uso pessoal, ministério das Infraloucuras. À espera de pior, resta-me repetir, de Pessoa, o Nevoeiro:
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro…
É a Hora!
*Ficção, p.209
**Mensagem e outros poemas sobre Portugal, Assírio & Alvim, p. 116