O início do ano lectivo, em particular no primeiro ciclo do ensino básico, é sempre um momento alto de ansiedades diversas, aproveitamentos múltiplos e de crises que nem se imaginavam antes.
Este ano, por causa das duas pandemias instaladas, a da Covid e a do medo, todas as ansiedades, aproveitamentos e crises foram exponencialmente agravadas, com pais, progenitores e outros familiares a exigirem impossíveis a quem está próximo e a esquecerem-se de exigir o possível a quem estando longe tem a obrigação e a competência de resolver.
Até seria razoável e aceitável se estas reivindicações fossem centradas na melhoria possível das condições de frequência das aulas de todos os alunos em todas as escolas, mas a realidade mostra-nos que a preocupação se centra na escola onde anda a sua criança e, para os menos solidários, na sala de aula onde a sua descendência se acantona para cumprir as tarefas inerentes às aprendizagens curricularmente impostas.
Esta atitude sazonal tem um efeito positivo que é chamar a atenção para deficiências, atrasos e insuficiências e um efeito perverso que faz com que as escolas que têm maior poder reivindicativo consigam reunir condições e obriguem a mobilizar investimentos que as outras não conseguem. A consequência é clara e consubstancia-se em colocar em crise a universalidade do acesso à escola em condições similares no mesmo território.
Se somarmos a tudo isto um alargado conjunto de pais, progenitores e outros familiares, que sofrem daquilo que os psicólogos identificam como síndroma da hiperparentalidade, definida por especialistas como Eva Millet, como “um fenómeno de educação que se caracteriza por uma atenção exorbitante às crianças”, lhe acrescentarmos aqueles que não hesitam em utilizar os seus filhos, e os dos outros, para concretizar ambições políticas, e somarmos alguns agentes educativos com uma particular tendência para a insídia, temos o caldo ideal para uma agitação sazonal em torno das escolas.
Nada do que eu disse antes afasta dificuldades e desmobiliza a necessidade de reivindicar a quem de direito mais trabalhadores e melhores condições para todas as escolas independentemente de serem frequentadas pelos nossos filhos ou por filhos de gente que desconhecemos e sem olhar ao impacto mais ou menos sonante dos apelidos que as crianças carregam.
Não, não estou a falar de nenhum caso particular. Estou a generalizar comportamentos que vou verificando aqui e ali e que imagino aconteçam um pouco por todo o país.
Queremos uma Escola pública, segura, de qualidade e onde seja apetecível as nossas crianças aprenderem e brincarem, a criarem laços sociais entre elas e a treinarem os seus processos de autonomia.
Queremos que isso aconteça em todas as escolas independentemente do grau de “activismo” dos “encarregados de educação” de cada uma.
Até para a semana