A possibilidade de uma crise política motivada pelo alegado desentendimento das esquerdas populistas em torno do orçamento do Estado, tem ocupado a política nacional desde há uma semana a esta parte. Será que estamos perante uma verdadeira crise política ou, à semelhança do sucedido nos últimos anos, “a montanha parirá um rato”, sucedendo-lhe o acordo.
A geringonça “montada” em 2015 pelos líderes do PS, PCP e Bloco, como o próprio substantivo significa, é uma realidade obtusa que provavelmente terá um mau fim.
Porém, nem todos pagarão a fatura desta desventura. Uns porque já eram pobres e o seu rendimento não alterou nos últimos seis anos, outros, uma pequena maioria, mas altamente perniciosa, tal qual os parasitas, subsistem a qualquer realidade, com ganhos de causa substanciais.
Houve, contudo, com o governo da gerigonça o controle das contas públicas e até um pequeno superavit, mas este sucesso foi aparente, deveu-se tão-só ao incremento das receitas. Impostos como o IVA e o ISP tiveram grande impacto nas receitas do Estado.
Na verdade, a conjuntura económica nos anos pós Troika foi altamente favorável. Por um lado, o acréscimo do turismo sem paralelo no nosso país impulsionado pela procura do norte da europa receosa com a instabilidade do médio-oriente.
Por outro, a intervenção do Banco europeu na compra de divida dos Estados fez com que os juros baixassem, e com isso, os serviços das dívidas diminuíssem substancialmente. No caso português, é o equivalente à despesa com o serviço nacional de saúde, sendo mais de 10 mil milhões de euros a poupança efetiva.
O certo é que a pandemia veio colocar a nu a nossa realidade socioeconómica. Sendo a despesa pública estrutural e rígida, com um crescimento débil e anémico, não há forma como acomodar as exigências populistas efetuadas pelas esquerdas radicais sem a criação de desequilíbrios orçamentais.
Deste modo, o cenário de crise política coloca-se efetivamente no horizonte. Pena é que não tenham ouvido aqueles que há muito alertaram para esta triste realidade, mas os poderes fáticos assobiaram para o lado. Agora, é a vez do presidente da república, do primeiro ministro, das confederações patronais e da comunicação social do regime, desatarem o nó.