A ignomínia como forma de estar

Crónica de Opinião
Quinta-feira, 26 Março 2020
A ignomínia como forma de estar
  • Eduardo Luciano

 

 

Faço estas crónicas há catorze anos e desde que assumi responsabilidades no executivo municipal tomei a decisão de não tocar em temas da política local. Em seis anos contam-se pelos dedos das mãos as vezes que violei essa regra que me impus.

Esta crónica é sobre a realidade local mas não é sobre política. É sobre “pulhitica” que é aquela actividade a que se dedicam os pulhas e que tanto pode envolver uma discussão sobre futebol, sobre saúde, sobre aeronáutica, sobre caça submarina ou sobre exploração espacial.

Nos últimos dias a propósito de declarações prestadas pelo presidente da Câmara sobre a necessidade de desinfecção do espaço público no actual momento da evolução da pandemia, seguindo as orientações das autoridades de saúde, foi o cidadão Carlos Pinto de Sá vítima de uma campanha soez, ignóbil, organizada e orquestrada por gente que mostra num dos momentos mais complicados da nossa vida colectiva, a sua verdadeira índole e a exacta dimensão da pequenez da sua ambição, que nada tem de político porque a política é coisa diferente.

Não estão em causa naturais diferenças de opinião ou diferenças de posição assentes na ideologia, forma estar ou educação. O que está em causa é mesmo o completo desrespeito pelo outro.

O presidente da Câmara Municipal de Évora assumiu desde o início desta crise a única atitude que poderia ter assumido. Sereno, assertivo, tomando decisões em função das orientações das autoridades de saúde, sem dramatismos, sem exibições de protagonismo desajustado às suas funções e às competências.

E teria sido tão fácil vestir o colete da protecção civil, pendurar a máscara ao pescoço e desatar a falar do que não sabe apenas porque era o que a maioria das pessoas gostariam de ouvir. Teria sido tão fácil mandar uns quantos trabalhadores vestidos a rigor para as ruas desertas despejar recursos materiais e humanos que mais tarde poderiam faltar para o essencial. Isto, claro, depois de avisar as televisões do que ia acontecer.

Mas o presidente da Câmara Municipal de Évora não é assim. Faz o que tem a fazer em função dos interesses da população, do cumprimento do programa político sufragado nas eleições, ouvindo os que tecnicamente estão preparados para sugerir as necessárias tomadas de decisão.

A diferença entre um cacique e um eleito no poder local democrático é essa. O cacique decide em função da sua opinião e vontade, o autarca decide depois de ouvir os que tecnicamente estão mais preparados em função do conhecimento que lhe é transmitido por quem sabe e neste caso concreto por quem está no comando do combate à pandemia, que são as autoridades de saúde.

Muitos dos que foram atrás orquestração de gente sem escrúpulos e sem respeito pelo trabalho alheio, fizeram-no levados pela irracionalidade provocada pelo medo.

A questão não é sequer partidária, porque gente de todos os quadrantes políticos enviou mensagens de solidariedade e de indignação perante a ignomínia da acção de alguns e ontem mesmo na reunião de Câmara o vereador do PSD fez uma intervenção eticamente irrepreensível, afastando naturais divergências para assinalar o que é óbvio para qualquer pessoa honesta e de bom senso.

Os cânones por que me deveria orientar dizem-me que deveria sublinhado o colectivo e desfraldar bandeiras, mas hoje o que sinto que é preciso fazer é demonstrar a total solidariedade com o meu camarada Carlos Pinto de Sá, porque foi ele enquanto cidadão que foi vilipendiado e insultado.

Até para a semana

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