A Justiça minada pela clubite

Nota à la Minuta
Segunda-feira, 27 Abril 2020
A Justiça minada pela clubite
  • Alberto Magalhães

 

 

Celebrado, como pôde ser, o dia em que, como povo, saboreámos a Liberdade, e dando algum descanso ao coronavírus, falemos de clubite aguda em Portugal, que é tema onde me sinto completamente marginal. O mandamento que já vi exposto em muito café e muita tasca e que ensina que se pode mudar de carro, de mulher, de penteado, de partido político, até de sexo, mas clama sacrilégio mudar de clube, define bem o contrário da minha posição sobre o assunto.

Porque, neste particular, sou meio quadrado de idealismo, sempre pensei que, acima de tudo, devemos considerar como nosso o clube onde praticarmos desporto ou outra actividade física. Pela simples razão de que os clubes desportivos têm como razão de ser… a prática desportiva – eu ia a dizer obviamente, mas percebo que isto seja tudo menos óbvio para muita gente. Também admito, e sinto, afinidade pelo clube da terra onde se nasceu ou pelo clube da terra onde se vive. Afinal de contas, um pouco de tribalismo pode não chegar a ser perigoso. Já me faz pouco sentido um lisboeta ter uma paixão assolapada pelo FCP ou um vimaranense chorar quando o clube de Alvalade perde.

Mas, repare-se numa das consequências funestas da clubite aguda: quer-se julgar o Rui Pinto e o sorteio destina um colectivo onde o presidente é benfiquista ferrenho e já lhe chamou pirata no Facebook. Paulo Registo teve de pedir escusa. Dirão os benfiquistas: – então um portista, ou sportinguista ferrenho, serão mais imparciais a julgá-lo? Eis o ponto, se calhar não devia haver, pelo menos, políticos e juizes – e, já agora, árbitros – sofrendo de clubite galopante. A bem da transparência e da justiça.

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com