A matemática dos oprimidos

Nota à la Minuta
Terça-feira, 06 Julho 2021
A matemática dos oprimidos
  • Alberto Magalhães

 

 

A civilização ocidental, é cada vez mais evidente, vai dando indícios de decadência a quem não tiver os olhos bem fechados. Na Califórnia, conta-nos o britânico The Times (20/05/21), um painel estadual educativo está a considerar uma reforma curricular da disciplina de matemática, que a torne mais equitativa, mais igualitária. Se for aprovada, dar a resposta certa a um problema matemático deixará de ser o objectivo principal do aluno. Isto porque “a identidade da matemática foi modelada em parte por uma cultura de racismo institucionalizado”, o que explicaria uma história de sub-representação de estudantes negros, hispânicos e indígenas, bem como de mulheres e pobres, “no domínio da matemática e áreas relacionadas”.

Devo dizer que esta história não foi uma completa surpresa, pois há mais de vinte anos li um artigo de, se bem me lembro, um professor de uma Escola Superior de Educação, que defendia uma tese muito idêntica. Dizia ele, a páginas tantas, qualquer coisa como isto: “se pusermos a uma criança o seguinte problema: um casal com dois filhos toma o autocarro, o motorista diz-lhes que cada bilhete custa 10 escudos. Quanto tem a família de pagar pela viagem? A resposta 40 escudos, parece correcta, mas é falaciosa. A verdadeira resposta é ‘demais, tem de pagar demais para as posses de uma família da classe trabalhadora’.

Décadas depois, o desnorte pedagógico europeu da matemática proletária, chegou à Califórnia, na variante anti-racista e identitária. Vendo bem, vendo bem, para que hão-de as crianças desfavorecidas matar a cabeça a resolver problemas matemáticos, se os computadores, a inteligência artificial e, claro, os engenheiros brancos, vão tratar disso por eles?

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