Macron foi aos arames e retirou o embaixador francês em Washington. Foi a primeira vez, desde a independência dos EUA. Porque o fez? Bem, Joe Biden, sem dar cavaco à UE e sequer à NATO, tratou de estabelecer uma aliança militar com a Austrália e o Reino Unido, para fazer frente à crescente ameaça chinesa na região Indo-Pacífica. A atitude americana não foi cordial para os europeus, sobretudo para os franceses, que viram Camberra denunciar um contrato em que compraria a França uma frota de submarinos convencionais e combinar com os EUA a construção de 12 submarinos nucleares. Mas, é preciso dizer que os industriais franceses, além de não estarem a cumprir prazos combinados, tinham aumentado os custos, de 30 mil milhões de euros para o dobro.
Provavelmente para fazer esquecer o autêntico fiasco que foi a saída do Afeganistão, Biden decidiu agir rapidamente, focando a sua e a nossa atenção na região onde as coisas estão mais tensas, mercê das crescentes provocações chinesas no chamado Mar da China incluindo a ameaça sobre Taiwan. Assim, além da aliança que chocou a Europa, Biden convocou uma cimeira onde juntará, além da Austrália, o Japão e a Índia.
A lentidão dos países europeus em perceber que, por ser a União uma potência económica, não deixa de ser vital gastar mais dinheiro na área da defesa, mas também a incapacidade de se definir em termos geoestratégicos – vendo-se como parceiros leais dos EUA mas, ao mesmo tempo, com aspirações a constituírem uma terceira força autónoma, entre americanos e chineses – pode condenar, cada vez mais, a UE à irrelevância, no panorama mundial.
Do que não há dúvida é que Biden está a fazer um esforço para sinalizar a Xi que não se deve entusiasmar demasiado com a putativa decadência americana.