Acabámos de festejar o que é considerado por muitos como a principal celebração do ano litúrgico cristão e também a mais antiga e importante festa cristã, a Páscoa, cujo epílogo é a ressurreição de Cristo, ocorrida no terceiro dia após a sua crucificação no Calvário e que concluí um período de 40 dias de jejum e penitência, que constitui a quaresma, cuja última semana, a Semana Santa, inclui a Quinta-Feira Santa, que relembra a Última Ceia bem como a Sexta-Feira Santa, que relembra a crucificação e a morte de Cristo.
Um tempo que nos deveria fazer pensar na divindade, nos seus mandamentos e no papel de todos nós neste mundo, que partilhamos e que por Ele terá sido criado.
Não deixo de pensar também, nesta particular altura, no papel das igrejas neste cenário divino, ainda que o mesmo não deva ser confundido com a crença individual de cada um.
Não me considero um desses afortunados, pelo que apenas me reservo a possibilidade de vir a ter uma conversa longa e profunda com Ele mesmo, se isso assim me for concedido, sobre este mesmo mundo, por Ele mesmo criado e o resultado que dele observo, criticamente, o que, em todo o caso, me parece bastante otimista da minha parte.
Não deixo de respeitar profundamente aqueles que mais longe conseguem ir nas suas crenças e que, mesmo perante a miséria deste mundo, por Ele criado e à sua imagem, mesmo descontando o demoníaco livre arbítrio de que o ser humano costuma fazer grande uso, mantêm a fé num outro momento prometido, em que tudo isto será compensado.
Já o mesmo não acontece, porque de humano se trata, quanto ao papel das igrejas, que cordeiramente fomos aceitando, independentemente dos atos que continuadamente têm praticado ao longo da história da humanidade, tanto quanto pudemos recuar, até bem perto do pecado original.
Aceitando desde logo a fé individual no divino, própria de qualquer ser humano em busca da explicação da própria existência e da consciência dela, já não é possível, da mesma forma filosófica e metafísica, explicar e aceitar os desmandos que em nome d’Ele, tantos humanos, usando o nome de tantas igrejas, têm feito no mundo e dele. Já isto não é aceitável.
Não sendo exclusivo de católicos, infelizmente, será no entanto certo que uma das maiores congregações de cristãos no mundo, reunidos debaixo da Igreja Católica, deverão sem grande esforço, conseguir incluir a grande maioria dos maiores crimes da humanidade, para os quais, continua a não haver nenhum tribunal terreno, de Haia ou qualquer outro.
Mas porque de matéria terrena se trata e não divina, deveremos ou não julgar, terrena e seriamente, os atos hediondos que muitos têm praticado em nome d’Ele? O que é que prende um verdadeiro crente de julgar aqueles que em nome d’Ele, conspurcam a sua própria crença?
Escusado já será falar de cruzadas, de inquisição, cristianização e de toda uma série de atos de relevância histórica que mancham em contínuo a biografia da existência material da Igreja Católica, talvez mesmo porque sempre passou impune perante tais atos. Apesar disso, o terrível cenário mantêm-se e a atualidade é manchada com atos ignóbeis de abuso sexual, perpetrados dentro da igreja católica, com a gravidade extrema da maioria das vítimas serem crianças, deixadas à sua guarda, que não d’Ele.
Mais grave ainda, a displicência com que a mesma Igreja e os seus bispos e acólitos olham para estas denúncias, que se propagam por todo o mundo católico, com raros olhares de horror, bem pelo contrário, com olhares e afirmações de desvalorização que deveriam repugnar todos e qualquer um de nós. Vamos continuar a permitir que a fé, particularmente a daqueles que verdadeira e genuinamente creem nela, de entre os quais poderia citar pessoas muito próximas e que verdadeiramente respeito e admiro, seja mais uma vez manchada por uma igreja irresponsável e aparentemente inimputável?
Não se trata, perante estes crimes, de igualar todos na igreja como de resto, em lado nenhum. Os políticos não são todos iguais, os médicos e os professores também não, as pessoas não são todas iguais. Os católicos também não, com certeza. Os padres e os bispos também não serão.
Mas criminosos devem ser punidos como tal. Ignorando este cenário dantesco, sobre os crimes comprovadamente praticados no seio da igreja católica como o têm vindo a fazer, estão a admitir, pelo contrário, que serão todos iguais. Serão todos criminosos? Pensem bem nisso.
Até para a semana.