Ontem, o secretário de Estado da Energia, João Galamba, encerrou a conferência internacional sobre Mineração Verde, organizada pela presidência portuguesa do Conselho Europeu. Na rua, à porta do CCB, uma centena de manifestantes indignava-se com a mentira suja das minas limpas e avisava que “o lítio não é renovável nem sustentável”.
Lá dentro, segundo o jornal Público, Peter Handley, da Direcção-Geral de Crescimento da Comissão Europeia, explicava que a União não pode trocar a dependência em relação aos fornecedores de petróleo e gás, por uma dependência de outras matérias-primas e que a mineração na Europa terá de avançar, de forma responsável e o mais verde possível. Todos concordaram com a necessidade de uma boa política de comunicação e uma total transparência nos procedimentos, o que, traduzido para português comum, significa ter muito cuidado com a forma como se vende a ideia.
Porque, depois de anos a convencer as pessoas de que o carvão, o petróleo e o gás, eram filhos do demónio e a energia nuclear o próprio Satanás e depois de nos pintarem as maravilhas das energias renováveis e limpas, vai ser realmente trabalhoso continuar a esconder que não há almoços grátis, que as eólicas têm impactos brutais na paisagem e na ecologia dos lugares (e as suas torres e hélices acabam por se transformar em montanhas de lixo), que as barragens perturbam fortemente a vida no curso dos rios, nas suas margens e foz, ou que, para obter baterias de lítio, é preciso abrir buracos, grandes buracos.
Na melhor das hipóteses, a maior parte das cem pessoas que, à porta do CCB, gritavam “Minas não”, serão coerentes, já prescindiram de telemóveis, computadores portáteis e outros primores tecnológicos. Se só querem usar energia limpa e sustentável, terão vindo de bicicleta, de carroça… ou a pé. Mas vender “mineração verde” não é muito transparente, há que dizê-lo com frontalidade.
