A racialização estatística

Nota à la Minuta
Quarta-feira, 10 Abril 2019
A racialização estatística
  • Alberto Magalhães

 

 

Parece mais ou menos assente que, no censo de 2021, ser-nos-á pedido que nos incluamos num dos seguintes grupos: branco, negro, cigano ou asiático. Havendo o risco de, com esta pergunta, se fortalecerem as barreiras já existentes entre grupos humanos, fomentando o racismo que, alegadamente, se quer combater, por outro lado, tornar-se-á mais preciso, porque estatisticamente fundamentado, o estudo das particularidades de cada grupo, em termos socio-económicos, urbanísticos, educacionais e culturais e a análise de fenómenos de desigualdade e exclusão social.

Apesar dos possíveis benefícios do ponto de vista da análise sociológica ou política, continuo com dúvidas sobre a bondade da medida. Pois, os mesmos que afirmam não existirem raças humanas, que apontam a racialização das pessoas como um preconceito, fruto da xenofobia e do racismo, vêem agora propôr-se classificar-me de acordo com a cor da minha pele?

Mas, atenção, o critério nem sequer parece uniforme. Brancos, pretos… os asiáticos são amarelos? E os ciganos, de que cor são? Ah, para eles o critério é étnico-cultural! Mas por que não usar critérios idênticos para os asiáticos? Indianos, chineses ou japoneses, são todos iguais? E os árabes? Não mereceriam um lugar à parte? Os brancos, serão mesmo todos brancos? É que, nos EUA, existem os brancos propriamente ditos, que se intitulam de caucasianos, e há os italianos, mas também os mexicanos, portugueses, porto-riquenhos e demais espanholados, que são uma espécie de brancos de segunda, os latinos. A coisa é complicada.

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