Ana Mendes Godinho, a risonha ministra do Trabalho, anunciou um estudo de preparação de projectos-piloto sobre a semana de trabalho de quatro dias. Isto será feito com empresas voluntárias, “tendo sempre em conta a preocupação da garantia de protecção dos trabalhadores.” Logo veio Miguel Albuquerque, presidente do governo regional da Madeira, pôr os pontos nos is: “Nós somos favoráveis à liberdade de iniciativa dos empresários, se alguma empresa entender que é mais compensador trabalhar quatro dias, isso compete à empresa, se quiser trabalhar um dia, isso é um problema que não é nosso” – afirmou convicto. Mas eu pergunto-me: – e se as empresas preferissem a semana de seis dias e meio, com descanso ao domingo à tardinha? Que diria Albuquerque.
Mas voltando ao ponto, o economista John Maynard Keynes previu, em 1930, que por volta do final do século XX a tecnologia teria avançado o suficiente para que países como a Grã-Bretanha e os Estados Unidos alcançassem uma semana de 15 horas. Ora, apesar de eu apostar que a tecnologia evoluiu muito mais do que Keynes poderia sonhar, no 22º ano do século seguinte, não se vislumbram massas trabalhadoras tão folgadas.
Há quem diga que a culpa é da lógica consumista que impiedosamente nos consome, pois não somos suficientemente frugais e poupados para aspirarmos a um módico de tempo, livre de trabalhos e preocupações. Outros dirão que o ócio é o pai de todos os vícios e é preciso manter as pessoas ocupadas para que não comecem a ter ideias incómodas ou mesmo perigosas. O Livre quer-nos libertar três dias por semana e o Governo parece alinhar na ideia. Veremos no que dá.