Afinal quem elege o Presidente da República?

Crónica de Opinião
Quinta-feira, 08 Outubro 2020
Afinal quem elege o Presidente da República?
  • Eduardo Luciano

 

 

Os processos eleitorais que determinam quem ocupa presidência da república têm sido marcados por forte influência manipuladora da comunicação social.

Todos o são, é verdade, mas o facto de se tratar de escolha de uma só pessoa acentua ainda mais os piores traços dessa manipulação de mensagem, condicionando a análise crítica de eleitores na avaliação das opções que lhe são apresentadas.

O caso do actual Presidente da República é paradigmático do que afirmei, tendo-se apresentado a eleições após uma longa campanha eleitoral de anos de presença televisiva com as suas opiniões a serem replicadas ao longo dos dias seguintes, como fonte de informação credível e inquestionável.

Para as próximas eleições o processo de selecção dos candidatos que vale a pena mediatizar em detrimento daqueles que as televisões e jornais acham que nem devem ser referidos não se alterou. Ou melhor, alterou-se para pior com a manipulação a atingir níveis de primarismo que envergonham uma classe que conta no seu seio com muita gente honesta e competente.

A entrevista ao candidato João Ferreira na passada segunda-feira numa estação de televisão privada é disso um exemplo acabado.

Durante a entrevista o rodapé apresentava afirmações do actual Presidente da República acerca de vários assuntos, contrariamente ao que é habitual em que o texto de rodapé sublinha frases ditas pelo entrevistado.

A entrevistadora tentou, do primeiro ao último minuto, colocar o candidato em situação de ter de responder como militante de um partido e não como candidato presidencial e só a inteligência, a preparação e o bom senso do João Ferreira permitiu que ficássemos a saber as razões da sua candidatura e não prestasse declarações sobre posições partidárias para que não estava mandatado.

Chegou a ser confrangedora a insistência em perguntar ao candidato presidencial qual seria a posição do seu partido sobre o orçamento de estado tentando de forma grotesca acantonar a candidatura ao principal partido político que a apoia.

O tratamento igual dos diversos candidatos é uma miragem em que já ninguém acredita, mas o mínimo de decência é exigível para que a democracia não se transforme numa farsa com resultados trágicos.

Sabendo a entrevistadora ou quem lhe soprou as perguntas ao ouvido que a figura de João Ferreira tem níveis de aceitação que vão muito para além das fronteiras do seu Partido, por declarações públicas de figuras como a deputada Isabel Moreira não se coibiu de colocar questões como “não há mais ninguém no seu Partido?” ou “está a fazer um tirocínio para secretário-geral?”

Até a manipulação mais básica tem como limite a indigência.

Só a notável prestação do candidato salvou aqueles minutos de televisão mostrando como afirmou que os ideais e valores desta candidatura não são delegáveis em nenhuma outra.

Até para a semana

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