Agressores, vítimas e espectadores

Nota à la Minuta
Sexta-feira, 28 Maio 2021
Agressores, vítimas e espectadores
  • Alberto Magalhães

Seria o Álvaro, o meu colega de escola, a vítima de bullying padrão? Talvez isso não exista, embora a falta de habilidades sociais, geradora de ansiedade ou de irritação excessivas, que incitam os agressores em vez de os dissuadir, possam estar presentes em muitos casos. Claro que ajuda ter alguma característica que forneça um “motivo” para a humilhação, o gozo, a agressão: ser gordo, ser magro, vestir roupa foleira; ser oculista, negro ou homossexual; gaguejar, ser tímido, ser ‘menino da mamã’, ou ser outra coisa qualquer.

Quanto aos agressores, há que ter cuidado com os estereótipos. Pode ser o mau aluno, que tenta, através do exercício do poder, recuperar a auto-estima perdida nos testes, mas mais frequentemente pode ser o bom aluno, com demasiada auto-estima, popular entre colegas e professores, manipulador e dissimulado.

Serão as famílias responsáveis? Talvez, nalguns casos. Seguramente, não em todos. Mas deixem-me dizer que, para combater o bullying, é necessário ter em conta o grupo em que se pensa menos, quando se pensa no fenómeno, e que é o grupo de espectadores ou testemunhas. Pois, se é importante intervir ao nível das vítimas e dos agressores, mais eficaz e duradoura, porque mais sistémica, se torna a intervenção dirigida aos colegas que assistem, muitas vezes sem coragem para intervir ou, simplesmente, porque a vítima não teve habilidade para fazer amigos.

À escola cabe consciencializá-los da responsabilidade que recai sobre os que, de telemóvel em punho, assistem sem intervir; alertá-los para a imoralidade do conformismo em relação aos que abusam da força e educá-los para a solidariedade com os mais fracos e indefesos, mesmo quando estúpidos, feios e antipáticos.

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