“As cadelas apressadas têm os filhos cegos”

Crónica de Opinião
Segunda-feira, 20 Fevereiro 2023
“As cadelas apressadas têm os filhos cegos”
  • Luís Caldeirinha Roma

 

 

Antes de tratar do assunto que pretendo realçar esta semana não posso deixar de me congratular com a conduta que a maior parte dos meios de comunicação social adotou de cautela face à fácil tentação de denegrir e generalizar a questão da pedofilia na Igreja. Assunto complectamente reprovável e condenável, mas para o qual não podemos cair no exagero de tomar a floresta pela arvore. Lembro a enorme importância que representa, há muitas décadas, a acção social desenvolvida em Portugal pela Igreja Católica em substituição das obrigações do Estado. Há padres que erram e, por isso, devem ser condenados, mas há uma enormidade que o não fazem e que devem ser respeitados pela acção que diariamente desenvolvem para o bem do próximo e da sociedade.

O tema fulcral desta semana é a habitação. Ninguém conseguiu compreender a decisão do Governo. Todos percebemos a intenção. Encurralado com os últimos acontecimentos quis mostrar serviço. Lembrou-se então o Senhor Primeiro-ministro, no intuito de colmatar as suas próprias promessas, que se arrastam desde 2015, de construção de milhares de habitações, de incumbir uma jovem Ministra, recém-empossada, sem qualquer experiência no assunto, de preparar um programa que pudesse responder à situação de emergência em que estamos.
Como nada foi feito até hoje lembrou-se então a Senhora Ministra, num golpe de magia, de propor o roubo de imoveis privados, alguns deles resultado de uma vida de poupanças e sacrifícios de muitos portugueses e emigrantes. Poderia, assim o Estado, dispor de alguns imoveis, baseados no direito à habitação, consagrado na nossa Constituição. De mais não será pensar que o Senhor Ministro da Saúde poderá vir a ocupar, brevemente, os hospitais privados com base em raciocínio idêntico no que respeita ao direito à saúde. Isto não é mais do que tentar pôr em prática as ideias de esquerda e estrema esquerda que este Governo pensa serem essenciais para voltar a captar os índices de confiança que tem vindo a perder.

O programa, que terá com certeza meia dúzia de medidas aproveitáveis, é de tal maneira mau que foi criticado da esquerda à direita. Desde a falta de descrição dos objectivos a atingir à indefinição dos prazos nada é determinado. Estranho é ainda que para concepção de um programa desta envergadura não se tivesse ouvido, pelo menos, opiniões das Câmaras Municipais e dos agentes ligados quer ao turismo quer à habitação.

Até mesmo o Senhor Presidente da República, que tem sido o anjo da guarda da desgovernação, comparou este programa a um melão ainda por abrir, isto é, ninguém sabe o que está lá dentro.

Bem se pode aplicar o ditado: “as cadelas apressadas têm os filhos cegos”.

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