As obras de arte de Rendeiro

Nota à la Minuta
Quinta-feira, 14 Outubro 2021
As obras de arte de Rendeiro
  • Alberto Magalhães

Peço desculpa por voltar ao assunto Rendeiro, mas a história das obras de arte arrestadas e há 10 anos à guarda da esposa do figurão, na mansão da Quinta Patino – que o senhor seu marido vendeu por mais de um milhão ao seu motorista que, a troco de 800 mil euros, cedeu o usufruto do imóvel à sua patroa por 20 anos – é tão irresistível como a história da ausência de motivo legal para tirar o passaporte ao Rendeiro. Pormenor não despiciendo, o pai do motorista Florêncio Almeida é o chefe dos taxistas portugueses, o presidente da ANTRAL, Florêncio Almeida.

Disse a juíza Tânia Loureiro Gomes, que em relação ao vigarista Rendeiro “nada fazia prever que havia perigo de fuga”, no entanto já encontrou motivo para prender o parceiro de Rendeiro, Paulo Guichard, que chegava do Brasil para, confessadamente, se apresentar no tribunal. Também descobriu razão súbita para apreender os passaportes de outros dois ex-administradores do BPP que, ao contrário de Rendeiro, se mantiveram por cá.

Se estes procuradores e esta juíza forem representativos, imagine-se o estado da Justiça. Querem, nada mais nada menos, que convencer-nos que é normal confiar em vigaristas que acabaram de condenar e que é normal manter a esposa do vigarista como fiel depositária de uma colecção de obras de arte que vale milhões. Não é. Já agora, uma pergunta para a juíza Tânia: – já pensou tirar o passaporte à Dona Maria de Jesus Rendeiro? Não que eu tenha motivos para pensar que ela tenha intenção de fugir à justiça portuguesa, afinal de contas ela ainda nem arguida é. Muito provavelmente nunca será. Pois, como provará o tribunal que foi à sua guarda que apareceram falsificações em vez dos originais?

Só que ela pode começar a preocupar-se por deixar o marido à solta num paraíso tropical e… não resistir ao apelo sentimental. Não sei se estão a ver que a história dava um filme.

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com