Percebo o argumento dos jornalistas. Nas redes sociais propagam-se, sem verificação confiável, sem mediação profissional e deontologicamente balizada, notícias, pseudo-notícias, falsas notícias, notícias cheias de erros factuais e opiniões mascaradas de notícia. Pior, quem procure informar-se nas redes sociais, será conduzido através dos seus algoritmos para uma realidade enviesada, cada vez mais ao seu jeito, cada vez mais ao seu gosto e ao dos seus pré-conceitos. Aos utilizadores incautos, elas oferecerão um ambiente mais e mais tribal, a cada tribo um isolamento cada vez maior em si própria. No fim, teremos a verdade fragmentada como nunca e cada vez mais moribunda.
Mas os jornalistas também têm de perceber que muitas vezes são os primeiros a dar maus exemplos, com títulos de primeira página duvidosos mas bombásticos; com acusações gratuitas baseadas em fontes anónimas e, portanto, irresponsáveis; fazendo perguntas a entrevistados e interrompendo-os sem que possam responder; transmutando notícias em entretenimento e vice-versa; e, muitas vezes, apresentando a realidade tão enviezada como se estivessem no Facebook.
Outras vezes, é simplesmente o desleixo, a falta de profissionalismo e a incompetência. Ontem, minutos depois das 17 horas, na TVI 24, notícia sobre a condenação a 19 anos de cadeia, de um abusador de cinco menores em Famalicão. Por duas vezes o jornalista, em voz off, refere o advogado das vítimas como “o advogado de defesa”. Não estranha que o causídico considere justa a pesada pena, dada a gravidade dos crimes cometidos. Meia hora depois, a peça é repetida sem emenda.