Tenho ouvido muita gente a suspirar pela morte ou queda de Putin, como forma expedita de resolver o problema que o mundo enfrenta, com epicentro na Ucrânia. Muita gente considera que a dureza das sanções impostas pelo Ocidente poderá apressar e tornar inevitável esse desfecho.
Não sei se será uma boa aposta. São muitos os testemunhos de ucranianos que apontam ter familiares na Rússia a viver numa autêntica bolha informativa, que se recusam a acreditar nos relatos dos seus próprios filhos ou irmãos sobre o que se passa na Ucrânia. Para muitos russos, Putin tem razão em perseguir os fascistas ucranianos e defender a Rússia do assédio norte-americano, sem provocar vítimas civis. O controlo estatal, quase absoluto, da informação, torna a cegueira destes russos normal.
Perante a superioridade militar russa e o continuado martírio ucraniano na defesa dos valores da liberdade e da democracia, por um lado, e, por outro lado, a determinação de não arriscar demais num confronto com uma potência nuclear agressiva, muitos aliviam a ambiguidade culposa rezando por um milagre que faça desaparecer Putin e o seu regime, num passe de magia.
Acontece que Putin pode estar longe de desaparecer e que um acordo de paz também parece longe de ser alcançado. Hoje, no Público, João Miguel Tavares cita um general indiano: “O Ocidente está disposto a lutar contra a Rússia até ao último ucraniano”.