Era inevitável. Face ao espectro de uma crise económica e social sem precedentes, a apregoada solidariedade política frente aos perigos da pandemia, vai deslaçando. Bem prega Rui Rio contra as manobras politiqueiras. Os menores deslizes do governo ou do partido de governo, eles próprios, vezes demais, infectados com o bichinho da asneira gratuita, passaram a ser, neste terceiro e – espera-se – último ‘estado de emergência’, alvo de ataque imediato.
Durante uns dias, caiu o Carmo e a Trindade por causa da comemoração parlamentar do 25 de Abril. As responsabilidades estiveram bem distribuídas.
Ontem, foi a vez do aumento, esquálido, dos funcionários públicos. Crime: o Ministério da Saúde não conseguiu processar a tempo os aumentos dos dedicados heróis da guerra pandémica. “Desconsideração”, exclama inflamada a bastonária dos Enfermeiros, qual dirigente sindical. Lá ficam os profissionais de saúde sem os 10 euros (ou menos) mais este mês. Vem a Catarina Martins e grita por um prémio especial para eles, que bem o merecem. Chega-se à frente o CDS e apresenta um projecto de resolução no parlamento, pedindo para os profissionais, “designadamente os de saúde… uma remuneração extraordinária, ainda que simbólica, a título de prémio e reconhecimento pelo seu extraordinário desempenho, dedicação e esforço”.
Se isto, numa altura em que se avolumam evidências de que a crise económica vai ser medonha, não é populismo de esquerda e de direita, hop dois, esquerda, direita, quem é amigo dos nossos heróis, quem é, quem é? Eu seja faisão…depenado. Só espero que o CDS não venha depois dizer que este aumento da função pública foi mais uma acha, mesmo que simbólica, para a fogueira da bancarrota.