Chego a perguntar-me se o futuro ex-ministro Eduardo Cabrita não terá por função suprema – tal como o futebol – distrair-nos do que, por ser verdadeiramente importante mas angustiante, será preferível manter nos recantos sombrios da consciência popular. Dou, por hoje, três exemplos.
A Demografia. Em 1961, por cada mulher em idade fértil, nasciam 3,2 bebés. Em 2020, nasceram 1,4, quando seriam precisos mais que dois para manter estável a população. Que soluções estão pensadas para que, o que já foi uma pirâmide etária, com as crianças na base, e no censo deste ano aparecerá como um cogumelo atómico, com os reformados no topo, não se agrave ainda mais? Apenas ouço falar da importação de migrantes e refugiados. Como os de Odemira? Para fazer a transição digital? Quanto a estimular os jovens portugueses à procriação, zero! Nem creches e jardins de infância acessíveis, nem abonos compensadores, nem nada.
A Educação. Teremos consciência de que 51% da população entre os 15 e os 64 anos não tem mais que o 9º ano e que 30% tem o secundário, valores dos mais baixos na Europa? Claro que partimos de muito baixo e as coisas estão melhor e no grupo etário dos 25 aos 64 anos, já temos 28% com um curso superior. O problema é que na Suécia são 53%, na Irlanda 50%, na Lituânia 44% e na Espanha são 39%, para dar apenas alguns exemplos.
A Pobreza. Segundo um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, com dados de 2018, Portugal teria 20% de pobres. A estes, a Universidade Católica vem juntar mais 400 mil, vítimas da pandemia. Mas o mais arrepiante é que quase 90% dos nossos pobres têm emprego. Um terço, aliás, tem emprego estável e outro terço são reformados.
Que fazer? Investir na caridadezinha ou na subsidiodependência, enquanto se desperdiça dinheiro a tentar mudar o clima?
Problemas complicados! É mais fácil entretermo-nos com Cabrita… e ele merece.