A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica apresentou, na passada semana, o Relatório que revela 512 testemunhos validados de abusos.
A maioria dos abusos decorreu em locais como seminários, colégios internos ou instituições de acolhimento, sacristias, confessionários, as casas dos párocos e no seio dos agrupamentos de escuteiros.
Estamos todos chocados (como não ficar com o estômago às voltas?), mas não totalmente surpreendidos com as conclusões do relatório desta comissão que, em janeiro de 2022, começou a investigar os abusos sexuais na Igreja Católica em Portugal.
Teria muitas considerações a fazer, desde as dinâmicas que se promovem nos cultos que pretendem subjugar mentes até aos crimes associados de ocultação (tanta gente que sabia e escondeu…).
Quero apenas, porque a onda do populismo fascista cavalga todas as ondas, esclarecer que propor a castração química como punição de pedófilos nada resolve. É uma boa proposta para responder ao choque e dar alimento a conversas de taberna, mas é perigosa a vários níveis, que não se limitam às questões éticas e constitucionais (que poderiam chegar).
As dinâmicas que levam ao abuso sexual de crianças não são exclusivamente derivadas de fatores físicos e/ou hormonais (mais descansados estaríamos se assim fosse, acreditem!). Para a perpetuação deste crime hediondo existem fatores culturais, psicológicos e educacionais que estão no centro, especialmente as dinâmicas de poder. Não é, pois, de estranhar o perfil dos criminosos e as suas práticas fora do crime.
Promover a castração química seria atuar apenas num dos fatores que leva à patologia e, em muitos casos, ao crime, mas não resolve o problema de fundo, nem tão pouco evita a reincidência da prática do abuso. Este é um assunto demasiado sério para deixarmos que populistas sem escrúpulos proponham idiotices e tentem colocar no centro da discussão o que menos interessa e o que menos contribui para, como sociedade, impedirmos qualquer abuso sobre crianças.
Até para a semana!