Uma das grandes vantagens das democracias liberais é a possibilidade dos governantes serem expostos às críticas de adversários, livres do medo de serem presos, e de correligionários, sem demasiado medo de serem afastados ou silenciados. Nos regimes totalitários, pelo contrário, os ditadores correm o risco de só ouvirem o que querem ouvir ou, pior, o que os vassalos acham que eles querem ouvir.
Vladimir Putin parece ter sido vítima do seu poder desmesurado. Ninguém teve coragem para lhe explicar do atoleiro em que poderia meter-se ao invadir a Ucrânia; ninguém lhe contou que muitos dos milhões destinados à modernização da máquina militar russa, eram desviados pelos seus corruptos cortesãos; ninguém o avisou de que a Ucrânia poderia não ser pêra doce.
Agora, face ao reforço da NATO e da UE, à dureza das sanções e à promessa de ainda mais duras sanções, face, sobretudo, à resistência de todo um povo que continua a morrer sem quebrar, Putin aplica a receita preferida dos brutos: se eles não cedem à bruta, aplica-se força ainda mais brutal. Demolição e deportação!
Um dos cenários que a sua brutalidade está a tornar mais provável é, nem mais nem menos, que o de uma desglobalização, com a separação abrupta entre o Ocidente e o Oriente. A ambiguidade da posição da China deve-se, provavelmente, às dúvidas que a situação levanta. Este cenário convir-lhe-á? Liderar o Oriente, mas sem as estreitas relações económicas com o Ocidente que lhe têm permitido, até aqui, prosperar, pode ser arriscado, por prematuro.