No xadrez político do país, a posição de António Costa é deveras singular. Com a direita enfraquecida e fragmentada e os partidos à esquerda do PS, por agora, mais ou menos neutralizados, para não falar do Presidente que vai dando tempo ao tempo, o primeiro-ministro aparece como o hábil político que consegue governar em minoria com a tranquilidade de quem possui maioria.
Tranquilidade talvez incauta e prejudicial, pois governar sem uma oposição não é, de todo, uma bênção. Nem para o Governo, nem para a Nação. Por isso, e porque, no Governo e correlativos, os erros – e sobretudo as mentiras, as trapalhadas e os despautérios – já são mais do que muitos, o sucesso de António Costa pode bem ser a sua (e talvez a nossa) desgraça. Para ajudar à festa, a pandemia – e a insegurança que gerou numa casa onde não há pão – provocou, numa parte significativa da população, uma reacção protectora, com tendência a defender as autoridades, em vez de analisar criticamente os factos e os argumentos.
António Costa, com um Governo muito do seu círculo, com ministros leais e alguns só isso, talvez rodeado de gente demasiado próxima para ver, corre o risco de não ter quem lhe diga ‘o rei vai nu’, quando for preciso. E é cada vez mais preciso. A crise está aí, enorme, brutal, ainda não atingiu o pico e é quase certo que vai ficar em planalto muito tempo. Dívida pública e défice gigantes; falências mil, desemprego muito; miséria e fome; os mortos de covid e de não-covid; as doenças graves não diagnosticadas e por tratar.
O sucesso ou insucesso da operação Vacinação, uma Remodelação gorda e feita com cabeça e a forma como for aplicada a Bazuca europeia, ditarão o destino político de António Costa e do seu Governo.