As crianças de hoje são cada vez menos, cada vez mais preciosas, cada vez mais frágeis e dependentes. As ruas e praças que, há umas décadas, se enchiam de gritos e risos infantis, estão hoje silenciosas. Os adolescentes também não abundam por lá. Os pais do século XXI tendem a criar ‘crianças de interior’, como já ouvi chamar-lhes, muito apropriadamente. O tempo que as crianças passam umas com as outras, sem supervisão de adultos, é cada vez menor. Excepto, claro, através da Internet.
Segundo dados dos Censos 2021, disponibilizados pelo INE, só um em cada quatro alunos, entre os 6 e os 18 anos, vai a pé para a escola. Mais de metade vão de carro e 23% vão de transporte público. Claro que, no caso dos mais novos, são raros os que não dependem de familiares para ir e vir das aulas. Num estudo efectuado, há dez anos, na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, com crianças de 8 e 9 anos, já era visível esta dependência, enquanto, na geração dos seus pais, 86% iam a pé para a escola e apenas 9% iam de carro.
Se perguntarmos aos, agora, pais, porque insistem em levar os filhos à escola, a maioria responderá com os perigos que poderiam correr, sobretudo às mãos de estranhos, potenciais raptores ou abusadores. Como se Portugal não fosse um dos países mais seguros do mundo. Como se, em Bragança ou em Évora, houvesse desgraças todas as semanas.