Em entrevista ao Público, em 18 de Fevereiro do ano passado, o Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, almirante Silva Ribeiro, alertava para um “cenário de penúria”, e salientava a “falta de recursos humanos” e de adesão à carreira mercê das baixas remunerações: apontava, por exemplo, que entre um praça do quadro permanente e um agente da PSP ou guarda da GNR, a diferença era de quase 400 euros. O ministro da Defesa, imbuído de indómito espírito castrense, mandou-o calar ou demitir-se. O almirante, disciplinado, calou-se.
Em 22 de Fevereiro deste ano, o DN divulgou trechos de uma carta assinada por quatro generais e enviada ao Presidente da República. Nessa missiva de oito páginas, um ex-chefe de Estado Maior do Exército, outro da Marinha e outro da Força Aérea, mais um ex-Secretário-geral do Ministério da Defesa Nacional, alertavam Marcelo para o “processo de desconstrução e ‘pré-falência’ das Forças Armadas”. Marcelo, na resposta, terá concordado com o “adensamento da imprevisibilidade e o acréscimo de riscos e desafios” postos pela situação mundial, e com “a necessidade de reforço da prioridade política da defesa nacional e da decorrente valorização das nossas Forças Armadas”.
É neste contexto que se deve entender a reacção dos militares à directiva emanada pelo Ministério da Defesa, proibindo que nos treinos se usem expressões marialvas, quiçá homofóbicas, como “porta-te como um homem” ou “deixa-te de mariquices”. Mas, caramba, entre a brutalidade das mortes por desidratação na instrução dos comandos e uma instrução mais meiga que a guerra do Solnado, sensível aos ‘dói-dói’ dos mais sensíveis, não haverá terceira via?