Não são poucos os que apontam as repetidas referências de Marcelo Rebelo de Sousa à possibilidade de dissolver a Assembleia da República, como factor irritante de António Costa, que o terá levado a dar um murro na mesa e a recusar-se a ceder à exigência do Presidente, de demitir o ministro João Galamba. Tendo razão quanto à insistência, quase insuportável, de Marcelo na eventual queda do Governo, escapam à narrativa, no entanto, alguns factos relevantes.
Em primeiro lugar, mais recorrentes que os avisos de Marcelo, têm sido as trapalhadas pouco dignificantes do Governo. Em segundo lugar, não parece muito adequado manter João Galamba num lugar tão decisivo como o de ministro das Infraestruturas, apenas com o objectivo de mostrar quem manda, a Marcelo e ao país, depois deste ser apanhado a contradizer-se no dossier TAP e de despedir, pelo telefone, o adjunto que mais envolvido estava nesse dossier, dando para tal uma justificação muito pouco convincente.
Ademais, a procissão da CPI sobre a gestão da TAP ainda vai no adro. João Galamba, o seu ex-adjunto, Pedro Nuno Santos e Hugo Mendes, serão ouvidos. Fernando Medina ainda não explicou por que disse que o despedimento, com justa causa, dos dois principais administradores da TAP estava blindado juridicamente, quando só a posteriori se inventou um parecer. Enfim, resta saber se o mesmo Governo, com o mesmo primeiro-ministro, no mesmo contexto nacional, consegue, de ora em diante, fazer diferente, neutralizando, de vez, o Presidente. Seria um excelente milagre.
