Foi dia de encherem as redes sociais com laudes aos pais. Uns, já desaparecidos, outros, felizmente, bem e alguns em Lares. Espera-se que não tenham ficado pelas fotos e tenham tido tempo para os visitar. Nas suas casas, nos Lares. O tempo passa tão rápido que, quando se dá por isso, muitas vezes já cá não estão.
Nas últimas semanas, voltaram a aparecer notícias sobre as condições em que vivem, ou melhor sobrevivem, idosos em Lares deste país. Voltámos a presenciar imagens de horror, de desumanidade, de holocausto.
Sim, de holocausto! Que outro nome podemos dar ao que sofrem as vítimas indefesas, vulneráveis, em fim de vida, nas mãos de quem, em vez de dar conforto e bem-estar, torturam, humilham, matam… sim, matam. Morre-se, por maus tratos, mas também por medo, solidão e tristeza. Alguém imagina o pavor que sentem nos seus últimos dias, quando deveriam ser tratados com amor, dignidade, com o carinho merecido, de quem já viveu uma vida e vê aproximar-se a morte.
E que dizer de quem comete este crime. Como podem deitar a cabeça na almofada, sabendo que condenam à imundice, falta de higiene, à fome! Amarram braços e pernas a idosos “porque se portam mal”, não lhes permitindo a utilização das mãos para o que quer que seja. Como conseguem olhar-se ao espelho?! Pensarão que não vão envelhecer? Que a juventude é eterna?
Depois, as famílias. Algumas, despejam os seus velhos, nunca mais querendo saber deles. Outras, não têm outra hipótese. As famílias alargadas estão em extinção, as mulheres, que dantes cuidavam dos pais, sogros e tios solteiros, trabalham, não há dinheiro para garantir todas as comodidades e assistência que muitos idosos necessitam. Muitos acamados. Muitos com demência.
Há 1.680 lares em Portugal e mais de metade são ilegais, embora funcionem com consentimento do Estado. Cabe à Segurança Social supervisioná-los. Sejam eles privados, IPPS, do Estado ou mesmo ilegais. Sem avisos, de surpresa, para garantir que vistoriam o dia-a-dia e a rotina dos Lares, assim como as visitas sejam realizadas sem marcação prévia, permitindo à família/amigos verificar que todos os cuidados são devidamente prestados. A Covid já não pode servir de desculpa para os manter aferrolhados.
A Ministra do Trabalho e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, referiu que a Segurança Social é implacável e que tem agido com preocupação de proteger as pessoas, fiscalizar e “tem tolerância zero quanto a situações que não estão a salvaguardar a vida de cada uma das pessoas”. Reportou, ainda, que em 2022, foram encerrados 177 lares e que houve várias denúncias ao Ministério Público.
Permitam-me a dúvida. A fiscalização dos lares é realizada pelos técnicos distritais da SS, cuja visita é, normalmente, agendada ou, em caso de denúncia, pelos 53 inspetores da SS, que têm como funções fiscalizar lares quer de idosos, quer de infância e juventude, centros de dia, creches, amas e casas de acolhimento temporário.
Cuidar dos nossos idosos é um DEVER de todos nós!