Dúvidas e certezas

Nota à la Minuta
Quarta-feira, 19 Maio 2021
Dúvidas e certezas
  • Alberto Magalhães

 

 

Nos últimos anos, tem sido posta em evidência uma característica humana que, embora decisiva, até agora se fora mantendo mais ou menos discreta, ao longo da história da humanidade, e que só a explosão das redes sociais tornou gritante. Os meus colegas mais novos conhecem-na pelo nome de ‘Efeito de Dunning-Kruger’, ou ‘efeito da superioridade ilusória’, que leva pessoas muito ignorantes sobre determinado assunto a acreditar que sabem mais do que o suficiente para ter certezas nesse domínio.

Devo dizer que tenho dúvidas sobre a importância da investigação, publicada em 1999, de Justin Kruger e David Dunning, à época da Universidade de Cornell, pois pouco acrescenta ao pensamento atribuído a Sócrates, filósofo grego morto há 2400 anos, e que se costuma enunciar assim: “Eu só sei que nada sei”. Reza a lenda que esta foi a resposta do filósofo, quando o Oráculo de Delfos o considerou o homem mais sábio de Atenas.

Há mais de 30 anos, eu próprio tentei elaborar uma versão mais explícita da máxima socrática, compondo-a assim: “Eu, considerado o mais sábio da cidade, já sei que pouco sei e que imensa é a minha ignorância”. Implícita ficava a ideia de que os mais ignorantes julgam saber quase tudo, por desconhecerem o muito que têm para descobrir.

Ao filósofo inglês Bertrand Russell, falecido em 1970, é atribuída uma versão mais dura, menos benigna, do assunto: “o problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas e os idiotas cheios de certezas”.

Por ora, resta dizer que a dupla Kruger & Dunning, ganhou o prémio IgNobel da Psicologia, concedido a estudos inusitados ou disparatados, pela revista de humor científico Anais da Pesquisa Improvável.

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