Nos últimos anos, tem sido posta em evidência uma característica humana que, embora decisiva, até agora se fora mantendo mais ou menos discreta, ao longo da história da humanidade, e que só a explosão das redes sociais tornou gritante. Os meus colegas mais novos conhecem-na pelo nome de ‘Efeito de Dunning-Kruger’, ou ‘efeito da superioridade ilusória’, que leva pessoas muito ignorantes sobre determinado assunto a acreditar que sabem mais do que o suficiente para ter certezas nesse domínio.
Devo dizer que tenho dúvidas sobre a importância da investigação, publicada em 1999, de Justin Kruger e David Dunning, à época da Universidade de Cornell, pois pouco acrescenta ao pensamento atribuído a Sócrates, filósofo grego morto há 2400 anos, e que se costuma enunciar assim: “Eu só sei que nada sei”. Reza a lenda que esta foi a resposta do filósofo, quando o Oráculo de Delfos o considerou o homem mais sábio de Atenas.
Há mais de 30 anos, eu próprio tentei elaborar uma versão mais explícita da máxima socrática, compondo-a assim: “Eu, considerado o mais sábio da cidade, já sei que pouco sei e que imensa é a minha ignorância”. Implícita ficava a ideia de que os mais ignorantes julgam saber quase tudo, por desconhecerem o muito que têm para descobrir.
Ao filósofo inglês Bertrand Russell, falecido em 1970, é atribuída uma versão mais dura, menos benigna, do assunto: “o problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas e os idiotas cheios de certezas”.
Por ora, resta dizer que a dupla Kruger & Dunning, ganhou o prémio IgNobel da Psicologia, concedido a estudos inusitados ou disparatados, pela revista de humor científico Anais da Pesquisa Improvável.