Coincidência ou não, o primeiro aniversário da maioria absoluta que nos governa celebra-se hoje, logo após um fim-de-semana dominado pela V Convenção do Chega. Para manter o tom deste primeiro ano de mandato, pouco menos que absolutamente desastrado, Augusto Santos Silva, presidente da Assembleia da República, decidiu fazer, na passada segunda-feira, um discurso apelando ao pragmatismo mais perverso.
Em primeiro lugar, pedindo à classe política no seu conjunto, para combater pelas ideias e “não pela lógica de descobrirmos roupa suja uns dos outros”, só lhe faltando dizer ‘não destapem as nossas carecas que nós não destapamos as vossas’. Em segundo lugar, no seguimento desta proposta descarada, defendeu que os políticos não devem ser julgados pelo que são, mas pelo que fazem, na lógica quase explícita do “rouba, mas realiza”. Ou seja, a segunda figura do Estado resolveu dar um pontapé na ética republicana, ainda por cima em nome da luta contra a ascensão da extrema-direita.
Ora, há que dizê-lo sem hesitações, é precisamente este caldo de cultura em que os princípios são maltratados, que garante o crescimento dos populismos. Na presente conjuntura, do populismo de direita.
Se o Chega saiu ontem da sua Convenção, embalado nas últimas sondagens, numa atitude super-optimista, muito fica a dever-se à continua erosão da ética republicana.