Desde o episódio que ficou conhecido como “a luta pelo microfone” com o secretário de Estado Paulo Núncio, na Comissão Parlamentar a que presidia, que tenho para mim que Eduardo Cabrita esconde uma fraqueza profunda com uma coreografia de autoridade, que facilmente se desconjunta, apesar do aparente autoritarismo.
Durante o último fim-de-semana, a saga do SEF teve um desenvolvimento inesperado que veio mostrar que, mesmo que o primeiro-ministro o mantenha até ao fim no governo, Cabrita não passará de um futuro ex-ministro. Quando, no domingo, o Presidente da República, sob pretexto inócuo, recebeu o Director Nacional da PSP, Magina da Silva, e este saiu da audiência dando a sua opinião – “pessoal”, dirá depois – sobre a reestruturação do SEF, referindo tê-la discutido com Marcelo, mostraram o que pensam àcerca da liderança de Cabrita e como nós a devemos julgar.
O futuro ex-ministro, dias antes, contribuíra decisivamente para a sua queda em desgraça, com uma desgraçada conferência de imprensa, onde se atribuíra galões imaginários, numa operação, simultaneamente, de auto-vitimização, culpabilização do resto do mundo e exaltação das suas imaginadas virtudes humanistas e humanitárias.
Tudo isto para esconder que, não teve mão na direcção do SEF que, por motivos a averiguar, deixou correr o marfim dos abusos. Não demitiu a directora e os directores-adjuntos, mesmo depois de ser claro que, pelo menos desde 19 a 30 de Março o mantiveram na ignorância do assassínio. Não teve uma palavra para a família do migrante assassinado, não se interessou pela sua situação financeira e nem sequer pagou a transladação das cinzas para a Ucrânia. Hoje o futuro ex-ministro é ouvido no Parlamento.