Viva
Li, há pouco tempo, um texto bastante elucidativo sobre questões semânticas, e não só, ligadas ao racismo. Substantivo concebido para justificar a superioridade ocidental branca sobre os demais povos, o termo “racismo” há muito que deixou de ter qualquer significado racional quando aplicado ao Homem.
Segundo Einstein “é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito” e este, aplicado aos humanos, traduz juízos de valor que tardam em ser abolidos, das nossas sociedades.
Qual o docente, do ensino pré-escolar ou do 1º ciclo, que não ouviu, vezes sem conta, a frase:
– Emprestas-me um lápis cor de pele?
E o que fazem muitos de nós? Disponibilizam lápis castanho muito claro ou cor-de-rosa, e se tal não acontece surgem reclamações
Pois bem, é aqui que a intervenção do adulto se torna imprescindível e de carater urgente. Não podemos permitir que inconscientemente, ou conscientemente, continuemos a alimentar práticas preconceituosas, quase sem darmos por isso. É nestes pequenos gestos que, muitas vezes, se inicia o combate ao racismo institucional. Este começando a manifestar-se muito cedo e, se ao ser pedido um lápis cor de pele, continuar a ser disponibilizada a cor rosa ou o castanho muito claro, mais não estamos a fazer do que perpetuar uma ideologia da qual nos envergonhamos.
Na escola compete-nos corrigir.
E em casa?
Não é possível democratizar a escola enquanto processos segregativos continuarem a vingar. É nas escolas, frequentadas por crianças de diferentes etnias, que se verificam o maior número de retenções ou o encaminhamento precoce para cursos profissionalizantes, muitas vezes, desrespeitando os interesses dos alunos. E porquê? Terão por acaso estes jovens menos capacidades que os nossos filhos?
Nas escolas o diálogo multicultural continua muito aquém do expetável. Mas, por outro lado, também sabemos que muitas das etnias com quem convivemos diariamente, desconhecem os seus deveres e os seus direitos, no que respeita à integração societária. O esclarecimento ainda está por fazer.
Tudo persiste em girar em torno de um monoculturalismo: os manuais, os currículos, a formação contínua…Esta muito raramente disponibiliza ações direcionadas para as práticas multiculturais, e as preocupações com o tema são escassas mesmo sabendo que é crescente o numero de crianças culturalmente e etnicamente diferentes.
Trabalhar com, e para a diferença, exige empenho e dedicação, ocupa tempo, muito tempo, e é sempre muito difícil questionar o que nem sempre é fácil de alterar.
A relativização do tema (racismo) e os diferentes conceitos culturais que lhe estão agregados, não dependem apenas dos regimes políticos. Todos somos responsáveis.
Ninguém nasce racista. Pouco importam as minhas definições, o que verdadeiramente me interessa são as verdades das minhas liberdades de pensar e de questionar. As respostas acabarão por surgir.
O racismo cultural continua a circular nas redes sociais, continua vivo nas escolas, no desporto, e marca presença por todo o lado. Assim, procurando coisificar verdades, tento contribuir para que lhe seja dada a importância devida e tão pouco reconhecida.
Exigir que a escola seja para todos é muito mais que um desejo, é uma obrigação.
Não somos nós, os “beges”, que praticamos fechamentos continuados e conscientes; não somos nós, os “beges”, que fugimos ao convívio com as demais etnias; não somos nós, os “beges” que contribuímos para a guetização….
Defendendo que é nas mestiçagens e nas pluralidades que nos tornamos livres, as injustiças levam, mais cedo ou mais tarde, a revoltas, e sendo estas imprevisíveis, as vitórias podem tardar a surgir, mas acabarão por vingar.
Os debates começam a assumir carater de urgência.
Afinal quem é “racista”?
Somos nós que nos autosuprimimos ou os outros a quem rejeitamos?
Saudações LIVRE’s
Até para a semana