Uma notícia de ontem no jornal Público com o título “Não há água para tudo no Alqueva: consumo para regadio está no limite” é mais um alerta que se soma a dezenas de outros, mas que parece que passa ao lado de quem nos governa (nacional e localmente).
O Alqueva que deveria constituir-se como fonte de esperança do desenvolvimento económico e social do Alentejo está a ser maioritariamente explorado por sistemas agrícolas intensivos e superintensivos. Sim, mais de 60% do regadio do Alqueva já é explorado por monoculturas intensivas de olival e amendoal, existindo Concelhos no nosso Alentejo com muito mais de 10% da sua área ocupada por estas culturas.
Este tipo de agricultura apresenta grande produtividade, mas coloca a saúde pública em risco, degradando rapidamente os recursos naturais, com destruição de biodiversidade. Culturas menos resistentes à seca e mais suscetíveis a pragas e doenças. O risco de dano ambiental é muito elevado em consequência do consumo de fatores de produção, nomeadamente adubos e pesticidas.
Resultado: risco elevado de poluição do ar, contaminação dos freáticos e das linhas de água, biodiversidade ameaçada e solos rapidamente degradados por exaustão.
Que valor nos traz, então, esta Agricultura? Trará valor aos grandes grupos económicos envolvidos, mas para a região e para o país desconhece-se o valor acrescentado. Nem tão pouco ao nível do emprego vemos um impacto positivo. Falamos de uma Agricultura altamente mecanizada, que quase não cria emprego local, e que para a colheita recorre a trabalhadores migrantes em condições de enorme precariedade a roçar o trabalho escravo, como já vimos em inúmeras reportagens.
O nosso Alqueva não merece ser assim tratado. Não pode ter sido para este fim que foi projetado. É tempo de parar e inverter esta trajetória.
Até para a semana!