Fazer política ou achincalhar

Crónica de Opinião
Quarta-feira, 01 Março 2023
Fazer política ou achincalhar
  • Maria Paula Pita

 

Já falei noutra crónica sobre a internet e como ela se tornou uma mais valia nos dias de hoje. Temos o mundo inteiro na ponta de um dedo, basta um clique para acedermos a uma vastíssima informação que há poucos anos seria impossível.
O facto de se estar atrás de um ecrã e de interagir com as mais diversas pessoas dos mais diferentes cantos do mundo, transmite uma sensação de liberdade, que pode ser muito positiva porque permite beber informação e conhecimento, mas que não deixa de ser perniciosa ao gerar um sentimento de impunidade, de que tudo se pode fazer, sem consequências.
As redes sociais tornaram-se, em alguns casos, meios de agressão, de bullying, de ofensa e de denegrir a imagem de outras pessoas, considerando que a injúria e o insulto são formas de liberdade de expressão e não uma violência verbal, com o objetivo de magoar, humilhar ou achincalhar o destinatário, de lhe roubar a dignidade ou lesar a sua honra.
De entre os crimes praticados virtualmente, os mais frequentes são os contra a honra: a calúnia, a injúria e a difamação. A difamação tem configuração de crime, independentemente de ocorrer num espaço físico ou digital e está previsto no Código Penal Português, no artigo 180º , Capítulo VI, que tem o título “Dos Crimes Contra a Honra”.
Vivemos um período, em que os princípios democráticos são muitas vezes postos em causa, em que não há respeito por ideias contrárias. Arremessam-se palavras com raiva, intolerância, sem haver confronto de ideias.
Será que a não concordância com o Outro, é motivo para ataques pessoais? Não temos que concordar uns com os outros, mas há legitimidade para se dizer o quer? Será que cara a cara as ofensas seriam feitas da mesma forma? É que as ofensas na internet têm um potencial de alcance muito maior do que as “físicas”, dado o poder de disseminação da net e perpetuam-se sem nunca desaparecerem.
Poder-se-á dizer que os que o fazem, demonstram insegurança que resulta do medo, da necessidade de controlarem uma situação ou até de um putativo narcisismo. Insultar os outros, faz com que se sintam poderosos.
O debate de ideias, o confronto político faz-se, pelos verdadeiros políticos, com elevação, consideração e cordialidade. A divergência é salutar em democracia. A troca de argumentos, também. A ofensa gratuita é sinal que os argumentos chegaram ao fim, assim como quando se usa subterfúgios para tornar um argumento falso, verdadeiro.
Este tipo de atitude só retrata quem o faz e quem a considera legítima. Mas o que é que contribui para o debate político? Qual o contributo para a construção de uma sociedade melhor?
Fazer política ou achincalhar, é uma escolha.

 

 

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