Então é assim, hoje celebra-se aquilo que é o Dia da Língua Portuguesa, dizem, que eu não sei se tal coisa ainda pode ser celebrada ou, outrossim, deve antes ser chorada. Deixem-me brincar um pouco com aquilo que é a desgraça de uma língua.
Dizer, de forma muito clara, que cada vez mais, aqueles que são os que deviam dar o exemplo, falam, não é assim, mau português, não é verdade? A coisa é tão grave que, por vezes, não se percebe quem é o maior culpado.
Será aquilo que é o aborto do Acordo que, sendo Ortográfico, cada vez mais actua na fonética, pondo locutores a falar para ‘telespetadores+ e tornando aquilo que era o óbvio, supremo horror, em óvio? Ou será o excesso de estimulação pedagógica da criatividade dos falantes e escrevinhadores?
O que leva uma repórter de TV a sentir-se livre de dizer “então a ‘pacificidade’ voltou à Avenida” ou um legendista de uma série policial a traduzir “creio que morreu por ‘estrangulação’”? Ou a Ministra da Saúde a prometer “o acompanhamento dos doentes, ao longo daquilo que sejam as suas necessidades”? Ou tanta gente na televisão a dizer “ele interviu”, em vez de “interveio”, ou “monotorização” em vez de “monitorização”.
Dói ouvir dizer “estamos a falar daquilo que é as zonas urbanas” ou “temos o mais profundo respeito por aquilo que são os profissionais de saúde”. Dói perceber o desprezo que as nossas, como direi, elites dirigentes, votam à Língua que hoje vão, hipocritamente, celebrar.