A vitória esmagadora do PS, e de António Costa, nas eleições de ontem, surpreendeu quase toda a gente. Mais uma vez, as, cada vez mais abundantes, sondagens sugeriam um resultado diferente. Até o primeiro-ministro pareceu acreditar na impossibilidade de alcançar a maioria absoluta. Mas, aparentemente, duas motivações acabaram por ser decisivas para uma maioria de eleitores:
Em primeiro lugar, evitar cair no impasse que, até há poucos dias atrás, parecia inevitável: uma repetição do cenário geringonceiro, com o PS, de mãos atadas, nas mãos da extrema-esquerda. Depois, evitar o cenário alternativo, também preocupante, de um PSD ganhador mas dependente de um Chega em ascensão, para ter maioria no Parlamento.
António Costa foi virtuoso a alimentar o desejo de estabilidade governativa e a desconfiança nas virtudes democráticas de Rui Rio. Além disso, aproveitou o voto útil à esquerda, com PCP e BE a braços com a indignação de muitos eleitores, enquanto Rui Rio tinha a IL e o Chega com dinâmicas de crescimento a dificultar o voto útil da direita
Podendo cantar vitória, além de António Costa, André Ventura e Cotrim de Figueiredo, que passam a ter grupos parlamentares significativos, e Rui Tavares que leva o Livre de novo ao parlamento. Grandes derrotados, além, claro, do PSD, o PAN, reduzido a uma deputada, o CDS, cuja morte estava anunciada, o BE e o PCP, que finalmente perceberam o disparate que cometeram com o chumbo do OGE 2022, e o Partido “verde por fora e vermelho por dentro” que também saiu de cena.
Por fim, Marcelo venceu porque os eleitores lhe ofereceram a estabilidade que se fartou de pedir. Mas, ao mesmo tempo, perdeu, porque a maioria absoluta do PS não era a estabilidade em que apostava.