Mediterrâneo: um enorme cemitério

Crónica de Opinião
Sexta-feira, 31 Março 2023
Mediterrâneo: um enorme cemitério
  • Glória Franco

 

Viva

Esta semana o debate sobre os migrantes e refugiados voltou a estar na ordem do dia. Com o acontecimento vivido na sede da comunidade Ismaelita, em Lisboa, os arautos da nação voltaram a questionar as entidades sobre o acolhimento de migrantes e refugiados.
O CHEGA esfrega as mãos de contentamento pois, este acidente trouxe à baila um crime há muito esperado pelos seus dirigentes, na tentativa de justificarem o injustificado. No entanto, os tempos de antena jogaram a seu favor. Mais uma vez os badamecos Venturas, deste país, fizeram-se ouvir com a habitual cascata de difamações sobre etnias, religiões e origens não ocidentais daqueles que nos procuram. Os canalhas serão sempre canalhas.
A atualidade e os acontecimentos vividos no fim de semana passado, a juntar à ocorrência de terça-feira levam-me, de novo, a abordar do tema.
Nunca se viu tanto barco tentar chegar a Lampedusa, como no último fim de semana. Pequenos botes que, tendo partido da costa africana, desembarcaram nesta pequena ilha mediterrânica que, está geograficamente mais perto de África do que da Europa, à qual pertence. Situada a meio do Mediterrâneo, é o primeiro porto terreste que estes migrantes encontram nas suas viagens desesperadas para alcançarem a Europa.
Sábado, desembarcaram mais de 2 mil, em Lampedusa, e outros 2 mil, em Malta. Aqui foi registada a chegada de cerca de 50 pequenas embarcações. Só num fim de semana cerca de 4 mil homens, mulheres e crianças fizeram-se ao mar na tentativa de procurar refúgio numa Europa que se vangloria de ser um dos mensageiros dos Direitos Humanos, mas só para alguns.
A Frontex, a Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira alertou as autoridades italianas para o avistamento de cerca de 200 embarcações nas águas mediterrânicas.
Tentando lutar contra as condições de vida impostas por regimes ditatoriais ou economicamente débeis, estas gentes procuram apenas viverem com o mínimo de dignidade possível. Gentes de várias origens que têm em comum a miséria, a fome e a falta de dignidade e de oportunidades.
Tudo serve para se fazerem ao mar.
Não se olham para as questões de segurança e o tráfico humano continua a crescer sem que alguém lhe ponha cobro. Os naufrágios continuam a acontecer, já com terra à vista.
Ainda não existe, por parte de quem de direito, o empenho suficiente para que este êxodo termine, que estas gentes tenham, na origem, aquilo a que têm direito.
Não foi ainda encontrada qualquer solução para travar esta tragédia. Se é importante ajudar na origem, não o é menos tentar assegurar rotas seguras, na tentativa de combater o tráfico humano.
No fim de semana passado, foram batidos todos os recordes.
As ONG’s não são em número suficiente para acudirem a estes migrantes. Maioritariamente limitam-se a denunciar as situações e a tentar salvar, quando possível, algumas das vítimas.
O Mediterrâneo está a tornar-se um dos maiores cemitérios do mundo.
As mortes sucedem-se e a luta contra o desespero está longe de reclamar vitória.
A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, apelou, aos estados-membros, normas comuns, na tentativa de alterar esta situação. Refere, Metsola, que há mais de 2 anos, estão em cima das mesas tentativas de reformar políticas no que à migração dizem respeito. Sendo uma causa fraturante os 27 não conseguem um acordo que a todos satisfaça. São necessários esforços redobrados e algumas vontades individuais para que tal se concretize.
Em Itália os Fratellis d’ Italia, partido de extrema-direita no poder, promete reduzir o número de desembarques em solo italiano. No entanto, esta política em nada contribuirá para atenuar o número de quem se faz ao mar e, talvez apenas leva ao aumento dos naufrágios, com a tentativa de proibição dos desembarques.
O tempo corre mais depressa do que nós.
Nunca, por mais que tentemos o vamos conseguir agarrar, mas temos de aprender que, este, ao passar, pode ser impedido de causar mais danos, mais mortes que façam aumentar o número das já existente, neste enorme cemitério que se chama Mediterrâneo.

Saudações LIVRE’s

Até para a semana

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