Muda-se o tempo, mudam-se as vontades

Crónica de Opinião
Segunda-feira, 12 Julho 2021
Muda-se o tempo, mudam-se as vontades
  • Maria Helena Figueiredo

 

 

Esta é a minha última crónica este verão, feita sob um calor abrasador que nos assolou este fim-de-semana. Não é que nunca se tenha sentido um dia de verão tão quente, mas o que estamos a assistir, por cá e noutros países, é a sucessão de temperaturas cada vez mais elevadas.

Há dias no Canadá as temperaturas quase chegaram aos 50º, ocasionaram centenas de mortes e despoletaram grandes incêndios florestais. No mês de Junho bateram-se todos os records de temperaturas e até Moscovo registou quase 35º, uma temperatura nunca antes atingida.

Estamos a viver um período de alterações climáticas e sabemos que nós aqui no Alentejo estamos particularmente vulneráveis às altas temperaturas e à seca, que já não é sazonal. Esta vai ser, cada vez mais, a nossa realidade.

E perante esta nova realidade como está a nossa Camara Municipal a preparar o concelho para contribuir para o combate às alterações climáticas e o que está a fazer para tornar o território mais resiliente à nova realidade? quais as políticas municipais que estão a ser desenvolvidas? Quais as medidas que foram adoptadas?

Em Barcelona, a Municipalitá está, por exemplo, a preparar a cidade, com abrigos climáticos para as pessoas mais vulneráveis, os velhos, os doentes, as crianças, em edifícios públicos, combate à pobreza energética de habitações, ensombramento em jardins e distribuidores de água.

Por cá temos visto corte sistemático de grandes árvores, sem justificação pública na maioria dos casos. Veja-se o Rossio, transformado num terreiro deserto depois de cortaram as árvores, sem as substituir, e onde hoje apenas pontuam dezenas de poste eléctricos. Arborizar é essencial.

Em 2016 foi adoptada uma “Estratégia Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas” mas apesar da qualidade do documento, quem o conhece? Foi discutido em linguagem simples com os munícipes? Participação e transparência, são essenciais na gestão autárquica.

E da estratégia, o que foi feito?

Uma das propostas da Estratégia, por exemplo, é a redução da pressão sobre os recursos hídricos. Mas é isso que estamos a ver ou, pelo contrário, nos últimos 4 anos o concelho tem visto um aumento exponencial da área de culturas superintensivas de olival, amendoal ou outros frutos de casca, com uma enorme pressão sobre os recursos hídricos, para além de outros problemas que levantam?

E não devia o Executivo municipal ter promovido já a alteração do Plano Director Municipal de molde a ordenar estas culturas e assim proteger o território e os recursos hídricos?

Nas zonas urbanas, as perdas de água e os rebentamentos de condutas são recorrentes e fazem-se remendos, quando se devia preparar a recuperação da rede em baixa, obra para a qual há apoios públicos, e que tem sido feito noutros concelhos com apoio do Banco Europeu de Investimento para esse fim.

Mais de 4 anos passaram e o plano de mobilidade, essencial para reduzir a emissão de CO2, está ainda em fase de preparação.

Ajustar circuitos e horários dos transportes públicos às necessidades das populações e introduzir a sua gratuitidade, para estimular a sua utilização pelos mais jovens e os mais velhos, e incentivar o uso de meios suaves, são medidas que favorecem a resiliência. Também a adaptação dos edifícios e do parque habitacional municipal para a utilização de energias alternativas e a mobilização e apoio aos munícipes para produção colectiva de energia são algumas das medidas que deviam estar em curso e não estão.

Quando voltarmos à antena terão tido lugar as eleições autárquicas e teremos escolhido os nossos representantes para as Freguesias, a Assembleia e a Camara Municipal. Esta escolha este ano é particularmente importante, porque a crise sanitária, económica e social e a crise climática que vivemos exigem respostas claras, corajosas e inovadoras. Não há margem para continuar apenas a fazer e anunciar planos que não saem do papel.

O que se joga agora é mais do que os lugares e os pequenos poderes, é o futuro colectivo e a vida das pessoas e é pelas pessoas e para as pessoas que a política tem de ser feita.

Boas férias, para quem tem férias, e até Setembro.

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