Tinha apontado na minha agenda, como tema para uma ‘nota à la minuta’, o abuso do negacionismo, como rótulo para definir adversários. Até já tinha título – ‘negacionismos para todos os gostos’ – e um exemplo – a Dr.ª Graça Freitas e a sua inicial e insistente negação da utilidade do uso de máscara. Eis que ontem, ao pesquisar na Internet, dou de caras com um artigo de Helena Matos no Observador, datado de há três dias atrás e versando tema muito semelhante.
Aliás, só posso subscrever o seu apelo aos jornalistas: “deixem de colar o rótulo negacionista a tudo e todos que não se comportam como determina a norma do dia que, convém não esquecer, pode ser absolutamente contrária à da véspera”.
Resolvi, mesmo assim, continuar, pois acho irritante esta banalização de um termo usado inicialmente para designar – e sem dúvida estigmatizar – os que negavam o Holocausto judeu e que seria bom continuasse reservado para coisas sérias como a negação de genocídios claramente comprovados.
Além de que, é bom de ver, a dada altura poderemos deparar-nos com negacionismos para todos os gostos. Helena Matos dá como exemplo a Festa do Avante poder ser tomada como um encontro de negacionistas, que se recusam a aceitar que da sua doutrina nunca resultou senão miséria e repressão. E já pensaram que mau seria se um hipotético regime ateu chamasse negacionistas da verdadeira morte, a todos os que acreditam na vida eterna?
Em resumo, penso que um termo conotado com o nazismo não deve ser usado para calar opiniões minoritárias, por mais disparatadas que elas nos pareçam.
