“O dia inicial inteiro e limpo onde emergimos da noite e do silêncio”, como escreveu Sophia, trouxe a democracia. Assinalaremos, esta semana, os 50 anos do 25 de abril de 1974. O dia em que o povo saiu à rua, não aceitou ficar em casa, acabou com uma ditadura que, assente na violência e na repressão policial, durava há 48 anos. Os presos políticos foram libertados, a PIDE foi extinta, a censura que escondia a corrupção e a miséria, foi abolida, acabou a guerra colonial onde morreram ou ficaram feridos milhares de jovens portugueses e africanos, os partidos políticos, os sindicatos e as Comissões de Trabalhadores passaram a existir, os professores e estudantes deixaram de ser expulsos das escolas por motivos políticos.
Nestes 50 anos após o 25 de Abril, alguns anseios populares não foram ainda concretizados. A falta de habitação ainda não foi resolvida, o serviço nacional de saúde apesar de muitos progressos como a formidável diminuição da mortalidade infantil, não conseguiu evitar que 4 em cada 10 euros do orçamento da saúde vá para privados, as convenções coletivas abrangem menos de 1/3 dos trabalhadores assalariados, persiste a violência contra as mulheres, o trabalho precário é a realidade para milhares de jovens, as instituições públicas têm estado demasiado ausentes nas respostas sociais à desigualdade e à pobreza, a regionalização prevista na Constituição não foi concretizada, as autarquias continuam sem os meios financeiros necessários para desempenhar bem as suas crescentes competências.
Hoje, quando em Portugal e noutros países continua a exploração, a desigualdade, a xenofobia, a intolerância, o racismo, o ataque aos direitos das mulheres, é tempo de lembrar todas as lutas que foram feitas para alcançar a liberdade e a democracia.
50 anos depois daquela manhã libertadora, não podemos resignar-nos ou aceitar o que está por cumprir de Abril.
Tanto por fazer, construir em conjunto e em conjunto derrotar os fascistas e conservadores que querem sair da toca.
Até para a semana!