O mimetismo presidencial

Nota à la Minuta
Terça-feira, 29 Junho 2021
O mimetismo presidencial
  • Alberto Magalhães

 

 

Em tempos que há muito já lá vão, conheci uma rapariga que era absolutamente mimética, ou melhor, absorvia, como esponja perfeita, a ‘onda’ das pessoas com quem mais privava e, espantosamente, tornava-se – como dizê-lo? – mais papista que o Papa. Fez amizade, ainda liceal, com uma amante do jazz, e logo começou a gastar a mesada em álbuns de cantoras como Ella Fitzgerald e Nina Simone ou saxofonistas como John Coltrane ou Archie Shepp. Depois, tendo arranjado namoro e casamento com um pintor meio-louco e meio-hippie, consumidor habitual de produtos psicadélicos, logo se transformou numa compenetrada admiradora dos Moody Blues e dos Pink Floyd, produtora artesanal de colares e pulseiras de contas coloridas. Internado o marido no Hospital Miguel Bombarda, mercê de um surto psicótico, separou-se dele, entrou no curso de enfermagem e transformou-se numa super-competente profissional. Bom, poderia continuar, mas penso que já se percebe por que lhe chamei “esponja perfeita”.

Também se perceberá por que motivo pensei nela nos últimos dias, ao ver o nosso Presidente da República a assumir a colectiva e popular loucura futebolística do país, a ponto de encarnar com absoluta candura o papel de comentador desportivo e de o vermos, pelas ruas de Cascais, com garrafas de vinho na mão, para se instalar numa esplanada a ver o Portugal – Bélgica; a ponto de, dias antes, ter apelado aos jornalistas para não o maçarem com covides e políticas, pois era preciso focar toda a atenção do país nos jogos da selecção nacional.

Esperemos não ter de o ver, em Fátima, a 13 de Maio, a cumprir promessa de joelhos ou, talvez pior, a insistir, uma noite destas, em cantar o fado, a meias, com o Camané.

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