O homem tirava notas em todas as reuniões onde estivesse. De repente, sem aviso prévio, resolveu dizer que não tinha notas da famosa reunião secreta de 17 de Janeiro. Depois, na véspera do 25 de Abril, “cucú, afinal tenho as notas, mas não as mostro enquanto não festejar o Dia da Liberdade”; e assim foi. Frederico Pinheiro passava, num repente, de adjunto competentíssimo a elemento tóxico do gabinete do ministro João Galamba que, coitado, se viu obrigado a despedi-lo por telefone para não ceder à tentação de lhe aplicar um par de murros.
Ao ver-se exonerado, Frederico pedalou que nem um louco até ao ministério para agarrar no portátil de serviço, que tanta companhia lhe fizera nos últimos anos e que tantos segredos partilhara consigo. Logo, de repente, se sentiu agarrado, puxado e sacudido por quatro ou cinco colegas do género feminino mas valente, que o queriam separar do seu querido PC, sob pretexto de que já não o merecia. Livrou-se delas, como pôde, e correu escadas abaixo, enquanto elas se trancavam nos lavabos e telefonavam à PSP.
Frederico espumou de raiva, por encontrar a porta trancada. Felizmente, a PSP apareceu e libertou-o do seu cativeiro, para estupefacção das suas ex-colegas e novas inimigas. Eugénia Correia, chefe do ministerial gabinete resolveu então telefonar para o SIS e queixar-se do Frederico, que fugira com o computador, onde estava abrigada a única cópia do Plano Estratégico da TAP que existia no Ministério. O SIS armou-se em PIDE e apareceu à porta do Frederico, às 11 da noite, e disse-lhe: “passa para cá o portátil ou está o caldo entornado”.
Depois de 12 horas de Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão da TAP, foi isto que eu percebi. Amanhã, a vedeta é o ministro Galamba.