Viva
Não tendo, inicialmente, previsto dedicar o texto desta semana à temática das religiosidades, impostas às crianças de 5/6 anos, apenas o faço porque fui recentemente confrontada com esta realidade.
Em construção permanente, as questões da cidadania continuam a marcar as agendas de muitos dos nossos docentes. Entendendo a educação como um direito fundamental de todo o cidadão, os temas relacionados com a cidadania e as verdades, são essenciais na formação das crianças; quanto mais cedo se iniciarem, melhor.
Penso que a finalidade formativa deve prevalecer sobre os tradicionalismos, sejam eles sociais ou religiosos. No entanto, algumas convicções, em estreita ligação com as religiões, continuam a minar assuntos relacionados com as liberdades fundamentais. Os catequismos continuam a adulterar conceitos e, por vezes, sobreporem-se às práticas assentes nos Direitos Humanos. Continua-se a ensinar que a homossexualidade é um comportamento desviante, que o aborto é crime, que a criação do Homem, obra de um ser superior…entre muitas outras aberrações que são dadas à absorção pelas crianças. E assim permitimos que se “eduquem” crianças, adulterando noções de liberdade e respeito pelas verdades.
Se a vontade de liberdade é inerente à formação dos cidadãos, precisamos investir em crianças critica, interventivas e não formatadas por religiosidades castradoras, sejam elas quais forem. Esta espécie de civilidade caduca não é mais do que uma forma de exclusão para com certos grupos societários.
Os códigos de “boas-maneiras” ensinados nas catequeses vão contra tudo aquilo que se pretende para uma sociedade igualitária e justa. A normalização dos costumes, a ausência de rigor científico na informação prestada e a educação pelo medo continuam a ser apanágio deste tipo de moralização imposto às crianças.
A atual hegemonia da igreja católica continua a marcar as vivências das nossas aldeias; a desinformação afeta, acima de tudo, os mais vulneráveis. Na escola pretende-se proporcionar prazer, com e no conhecimento, mas muitas vezes, este conhecimento é questionado pelos catequistas, através das crianças. Os miúdos andam baralhados com conceitos adulterados e, os mais perspicazes interrogam os fundamentos. Em quem acreditar: nos professores ou nos catequistas?
Se os adultos optarem por viver religiosidades, é uma escolha legítima e mesmo que eu a considere descabida, que só a eles diz respeito; mas estes não se podem esquecer que as crianças não são sua propriedade. Obrigá-los a assimilarem e a viverem com medo de um deus qualquer (com tudo o que isso implica) vai contra alguns dos seus direitos fundamentais. Só para relembrar que a Declaração Universal dos Direitos das Criança refere, que: deve ser ministrada uma educação que promova a sua cultura e lhe permita, em condições de igualdade de oportunidades, desenvolver as suas aptidões mentais,… e que a criança deve ser protegida contra as práticas que possam fomentar a discriminação racial, religiosa ou de qualquer outra natureza.
Se não rotulamos as crianças de fascistas, socialistas, comunistas… porquê continuar a classificá-las como católicas, muçulmanas, hindus…?
Até quando permitiremos que se dominem os corpos, que se controlem as mentes, que se estigmatizem comportamentos, opções e vontades?
Saudações LIVRE’s
Até para a semana