O transtorno da Transtejo

Nota à la Minuta
Sexta-feira, 17 Março 2023
O transtorno da Transtejo
  • Alberto Magalhães

 

Em 2019, a administração da Transtejo meteu na cabeça que havia de comprar 10 barcos movidos a electricidade. Ganharam o concurso os Estaleiros Góndan, das Astúrias, por 52,3 milhões de euros. O outro concorrente, os Estaleiros Navais de Peniche, contestou os resultados, argumentando que a proposta espanhola só era mais barata porque não incluía o custo das baterias. Tendo aparentemente toda a razão, não teve sorte nenhuma.

Os barcos deveriam ser entregues lá para o fim deste ano e a Transtejo pediu agora ao Tribunal de Contas autorização para mudar o contrato já aprovado, para incluir a compra das baterias, por ajuste directo, aos asturianos, por 15 milhões de euros. O Tribunal sovou violentamente o negócio e recusou o visto, provocando a demissão da administração da empresa pública, que sai queixando-se das afirmações “ofensivas e ultrajantes” da sentença e da dificuldade de “fazer inovação na administração pública”. Difícil e perigosa, esta coisa de comprar barcos eléctricos sem electricidade e de enganar o Tribunal de Contas (não sou eu que o digo, são os juízes, que, entretanto, enviaram o responso para o MP),

Tal é a vontade de inovação verde e de combate cego às alterações climáticas, tal a cisma de fazer do país pioneiro da descarbonização, que se gasta dinheiro a rodos sem um mínimo de reflexão e inteligência. Fernando Grilo, economista e especialista em transportes marítimos, já avisava, sobre este negócio, em 2020: “Não existe actualmente em operação de transportes de passageiros qualquer ferry 100% eléctrico que reúna em simultâneo o comprimento, a capacidade em passageiros e velocidade e a autonomia, constantes dos parâmetros do concurso”. Mas claro, era apenas mais um conservador ou mesmo um negacionista.

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