Hoje chegamos às 1400 Notas
Situada entre a praia de Carcavelos e a linha férrea Cascais-Lisboa, a Quinta dos Ingleses faz parte das minhas recordações de juventude. Além das instalações da Marconi, enormes edifícios junto à praia, a quinta albergava um enorme pinhal e o colégio St. Julien, que emprestava o seu campo de futebol para os jogos de pais e filhos, do meu bairro na Parede, jogos que terminavam em grandes almoçaradas num dos restaurantes da praia. Chegou o 25 de Abril e, em pleno PREC (processo revolucionário em curso), os edifícios da Marconi foram ocupados por famílias carenciadas, que mudavam assim das suas barracas para instalações que, embora degradadas, lhes davam melhor abrigo e conforto.
Quase 50 anos depois, muita coisa mudou. A Universidade Nova instalou a ocidente, junto à marginal, a sua Escola de Negócios e Economia, mas em inglês claro, e parece haver planos para, substituindo o pinhal centenário onde tantas vezes passeei, construir uma mega-urbanização, que reduzirá de 52 para oito hectares o espaço verde junto à praia de Carcavelos. Mudança radical e que custa a aceitar. Mas pior, por ser sinal aziago do que se passa no país, cinco décadas depois da revolucionária ocupação, a Quinta dos Ingleses volta a acolher gente sem tecto, agora acampados em tendas e roulottes.
Ontem, o pacote “Mais Habitação” foi aprovado pela maioria socialista no Parlamento e o ministro das Finanças anunciou umas medidas que, aliviando as contas de quem tem empréstimos imobiliários a pagar, serão, segundo o Presidente da República, paliativas; e, aparentemente, o programa “Mais Habitação” poderá trazer, como efeito perverso, ainda menos habitação.