Se há ditado popular completamente apoiado pela ciência, neste caso psicológica, é o que sentencia que ‘o pior cego é o que não quer ver’. A capacidade do nosso cérebro para nos iludir, fazendo-nos a vontade, escondendo-nos o que preferimos não saber, é impressionante. Igual, só a habilidade de vermos o que desejamos ver, mesmo quando não passa de uma miragem no deserto da nossa sede.
A cegueira selectiva de grande parte da esquerda ao embuste dos países ditos socialistas, vendo poder popular onde só havia (e só há) ditaduras de partido único, vendo liberdades onde se ia (e se vai) para a cadeia por delito de opinião, vendo qualidade de vida onde a miséria estava (e está) bem à vista de quem a quisesse ver, sempre me impressionou. Será que não se punham questões simples e óbvias: para que construiram o muro de Berlim e a Cortina de Ferro? Por que fugiam as pessoas de leste para Ocidente e não o contrário? Mais simples ainda: por que tinham de fugir e não podiam simplesmente sair à sua vontade?
As manifestações em Cuba trazem de novo interrogações semelhantes e eu quero voltar a insistir numa… eu ia dizer ‘mentira’, mas vou-lhe chamar antes ‘deturpação da realidade’, a de que existe um ‘bloqueio’ dos EUA a Cuba, quando na verdade se trata de um ‘embargo’ comercial, económico e financeiro. Muito semelhante, aliás, às ‘sanções’ que a UE impõe à Rússia, apenas mais radical. Pelo rumo que as coisas levam, qualquer dia teremos, talvez, o senhor Orbán a queixar-se do bloqueio europeu à Hungria.