“A influência dos raios gama no comportamento das margaridas”, uma peça de teatro de Paul Zindel, transposta para cinema em 1972 por Paul Newman e magistralmente interpretada pela sua mulher Joanne Woodward (que faz de mãe destrambelhada de duas filhas) e sua filha Nell Pots que representa uma menina que – ao contrário da irmã mais velha, que parece querer seguir os passos da mãe – se porta à altura das circunstâncias e tem na escola um projecto de ciência sobre o efeito dos raios gama no comportamento das margaridas.
Refiro este filme, não porque queira falar de como os filhos, aparentemente sujeitos às mesmas forças genéticas e educativas, podem ter adaptações completamente diferentes às dificuldades da vida mas, mais prosaicamente, porque me lembrei dele quando li no jornal Público o título “Enorme explosão de raios gama vista a 4.500 milhões de anos-luz”.
Dizem os físicos que os raios gama têm um comprimento de onda super-hipercurto e uma frequência elevadíssima. São por isso altamente energéticos e penetrantes e, por que não dizê-lo, altamente prejudiciais à vida, incluindo a nossa, embora – se controlados – possam ser usados no tratamento do cancro. Felizmente, o campo magnético da terra e as camadas superiores da atmosfera, impedem que eles cheguem até nós com todo o seu poder destruidor.
Há 4500 milhões de anos, mais ou menos na altura em que o Sol e o sistema solar estavam a nascer, ou uma supernova explodiu ou duas estrelas de neutrões chocaram frontalmente. Seja qual for o caso, a explosão emitiu mais energia do que o nosso Sol emitirá durante toda a sua vida. Felizmente, estávamos bem longe e as margaridas também.