Passear no Centro Histórico

Crónica de Opinião
Quarta-feira, 30 Novembro 2022
Passear no Centro Histórico
  • Maria Paula Pita

 

A minha vida, e a dos eborenses em idade ativa, é muito corrida durante a semana. Entre filhos em idade escolar, trabalho e cuidar dos pais, muitos de nós, não têm tempo para usufruir a cidade, os bairros e os amigos. 

Aproveito o fim-de-semana, principalmente o domingo, com a desculpa de passear a cadela, para usufruir a cidade e os arrabaldes. 

Será que há consciência do privilégio que é morar em Évora? Um pé no campo, outro na cidade. Adoro soltar a cadela, bem cedo, no campo molhado pelo orvalho da noite, vê-la correr, rebolar-se e  sorrir. Cão a ser cão, nos dias de hoje

Adoro passear pelo bairro e cumprimentar os madrugadores que foram comprar pão quente e trocar uns dedos de conversa com outros tutores de cães, sobre as suas habilidades, doenças e gracinhas.

Gosto menos de passear pela cidade aos domingos de manhã. Com os despojos da noite anterior. Tropeço em quem continua na noite, que nem se apercebe da nossa passagem ou mete-se carinhosamente com a cadela, mas custa-me ver a sujidade em que algumas das zonas nobres se encontram, sinais partidos, pichagens de paredes, aquele cheiro a álcool misturado com azedo. Nada tenho contra a noite. Tenho contra quem não respeita a cidade e os seus moradores. Morando fora do centro histórico, não tenho queixas de barulho e não sinto a falta de segurança que ecoa nas redes sociais. Mas ouço-as dos moradores. 

No dia 25 de novembro comemorou-se os 36 anos da classificação do Centro Histórico de Évora como Património Mundial, pela UNESCO, com a realização de um encontro no Palácio D. Manuel. Infelizmente, por motivos profissionais e pessoais, não pude estar presente. No entanto, refiro com bastante agrado a presença, na comissão promotora, para além da autarquia, a Associação Comercial do Distrito de Évora [ACDE], a Associação Portuguesa para a Reabilitação Urbana e Proteção do Património [APRUPP], o Grupo Pro-Évora, o Movimento de Defesa do Centro Histórico de Évora [MDCHE] e a União das Freguesias de Évora. É importante que todos se unam, independentemente da cor política, para garantir o bem dos moradores e dos que lá trabalham. O CH não pode ficar estagnado, parado no tempo.Tem que ser atraente para os moradores, fazer-se uma reabilitação condigna e de acordo com os padrões do século XXI, adaptando materiais, importante para a sustentabilidade do planeta.`Há que resolver os problemas de mobilidade, quer através de transportes públicos articulados com parques de estacionamento subterrâneos ou fora das muralhas para todos. É fundamental que no CH se produza riqueza para a cidade com atividades diferenciadas que não apenas hotéis e alojamento local. Tarda um Plano de Salvaguarda. Tarda a aplicação do Regulamento do Ruído. Tardam medidas de agilização burocrática e responsabilidade dos serviços camarários. Fará sentido, ainda, que a última palavra sobre muitas das alterações seja competência da Direção Geral do Património Cultural, sediada em Lisboa, que nunca cumpre os prazos estabelecidos pela Lei para dar a sua aprovação!? 

Temos que ter consciência que devemos CUIDAR de um tesouro, que não é nosso mas do mundo, e transmiti-lo às gerações vindouras.

 

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