A esmagadora maioria dos portugueses concordou com a declaração do ‘estado de emergência’ cujas medidas, legalmente, entraram ontem em vigor. Umas imagens da marginal, em Carcavelos, com fila de trânsito num dos sentidos, e imagens nas marginais de Matosinhos e Póvoa do Varzim, com centenas de pessoas a passear ou a correr, dispararam o alarme da comunidade moralmente impoluta, civicamente empoderada e talvez, ligeiramente, invejosa. Como se atrevem, esses inconscientes, a pegar no automóvel e irem em fila indiana de Lisboa a Cascais e volta, para ver e cheirar o mar, no tradicional ‘passeio dos tristes’?
Bom, talvez não seja assim tão irresponsável, desde que não saiam dos carros e se ponham a confraternizar… As próprias autoridades sanitárias aconselharam passeios higiénicos com cães, crianças e namorados, mantendo-se as distâncias regulamentares. As televisões filmaram as marginais nortenhas com teleobjectivas e já se sabe que elas ‘achatam’ as distâncias. Eu precisaria, antes de condenar os pobres sôfregos de sol e brisa marítima, de os observar do alto, na vertical.
Não estou com isto a desvalorizar a importância do isolamento social, longe disso. É fundamental e deve ser levado muito a sério. Mas o ‘passeio dos tristes’ e os ‘passeios higiénicos’, cumprindo as regras que todos já sabemos ter de cumprir, são úteis para manter o equilíbrio mental.