Ponto Final

Crónica de Opinião
Quinta-feira, 01 Julho 2021
Ponto Final
  • Eduardo Luciano

 

 

Em Fevereiro de 2006 dei início a esta colaboração semanal com a DIANAFM, pensando que tal coisa iria durar uns meses, no máximo um ano.

Passaram mais de quinze anos e ainda por cá ando, embora com mais falhas do que desejaria nos últimos meses, e entendi que era tempo de deixar de vos aborrecer com as minhas posições de alinhado em desalinho.

Durante estes quinze anos e alguns meses disse o que achava que teria de dizer, da forma que entendi, com total liberdade. Nos tempos que correm isso não é coisa pouca e tenho a agradecer à direcção da rádio a forma como me deixou em liberdade para o que me desse na real gana.

Nas últimas semanas li as mais de quinhentas crónicas para seleccionar um conjunto delas que irei editar num livrinho e apercebi-me de como fui mudando o estilo, o tom, o ritmo, reflectindo o prazer ou o sacrifício que cada uma delas me provocou.

Quando assumimos uma tarefa, temos muitas vezes que nos sacrificar à suposta utilidade da mesma e escrever sobre coisas que não nos dão qualquer prazer.

Nesses casos, ou saem panfletos sentidos ou “textos poéticos” sobre orçamentos de estado e outras coisas ainda mais áridas. Apesar de tudo, consegui o milagre de estar sempre de acordo comigo próprio, usando as ferramentas ideológicas que felizmente fui colocando na minha mala de primeiros socorros.

Há quinze anos colocaram-me como ponto de honra nunca fazer crónicas sobre crónicas de outros cronistas e julgo que por minha iniciativa tal nunca aconteceu. Fui apenas duas vezes alvo da verve de outras cronistas e respondi à primeira, porque continha um insulto. Imaginem que me chamava colega! O outro episódio bem mais recente não merece resposta, porque contém não apenas insultos mas também insinuações torpes a que atribuo a uma certa acidez de estômago e eu respeito muito o sofrimento provocado pela falta de saúde.

Muito do que vos li nesta rádio foi entendido por alguns como mera opinião que mais não era do que caixa-de-ressonância das posições do meu Partido de sempre e entendido por outros como algo que não cumpria exactamente a tarefa que me tinha sido atribuída.

Provavelmente terão todos razão, mas eu não consigo ser de outra maneira e acreditem que até já tentei.

Esta é a última vez que que vos maço às quintas-feiras e todos vamos beneficiar com isso.

Há alguns anos um velho camarada contou-me uma anedota do tempo da construção do socialismo na União Soviética e que se resume desta forma: passados alguns anos após a Revolução de Outubro um velho militante encontra um camarada desses tempos de assalto aos céus e pergunta-lhe o que anda ele a fazer na vida. O interpelado diz-lhe que agora é sacerdote na igreja ortodoxa. Incrédulo, o velho militante questiona-o sobre a mudança tão radical de vida, logo ele que era um dos ideologicamente mais bem preparados desde o tempo da Revolução. Olhos nos olhos, o sacerdote respondeu: tarefa é tarefa, camarada.

Venha a próxima, porque a luta continua.

Obrigado à DIANAFM pela oportunidade e a todos que me ouviram ou leram pela infinita paciência.

Até sempre

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