Estamos em Dezembro e o tempo é de festa natalícia. Saúdam-se os amigos e os quase inimigos. Olha-se para o céu e espera-se que uma estrela indique um qualquer caminho. Há os que preferem estrelas de seis pontas, que indiquem o caminho de um qualquer míssil a cair na Palestina ou a localização de um qualquer novo colonato israelita e há os que preferem as estrelas de cinco pontas, símbolo do internacionalismo proletário, que apontem o caminho da resistência no Chile, no Brasil, na Bolívia, na Colômbia, em França ou nos Estados Unidos.
Seja como for, a tentação de olharmos o céu à procura de orientação é quase irresistível, nesta época de lacrimejante e emocionante solidariedade sazonal.
Porque é Natal, na Assembleia da República já está montado o Presépio ou, no mínimo, as figuras já marcam presença embora ainda de forma desordenada, conforme se pode verificar pelas afirmações de um deputado do CDS acerca de símbolos nacionais e pelo esgar asinino do deputado acabadinho de chegar ao palco do debate político, ou pelas afirmações de uma senhora deputada do mesmo partido acerca do que deve ou não ser considerado o superior interesse das crianças filhas de pais separados.
Como a época é propícia à esmola caritativa tivemos o anúncio de aumentos salariais para a função pública na ordem dos 0,3%, o que só não é de bradar aos céus porque este é o tempo de sussurrar de olhos humildemente postos no chão que pisamos.
Tal como há mais de dois mil anos o império vai acumulando poder e a Cofina já pode comprar a Media Capital, aumentando a concentração de instrumentos de comunicação nas mesmas mãos, para garantir que apenas a voz dos Herodes deste tempo seja lida, vista e ouvida e por este caminho a degola dos inocentes se faça paulatinamente ao ritmo das notícias de crimes e dos debates idiotas sobre futebol.
No Natal de dois mil e dezanove a dificuldade dos mais pobres em encontrar alojamento que possam pagar é parecida com dificuldade que uma família pobre tinha em encontra uma gruta onde pudesse pernoitar. Bem, naquele tempo a noção de alojamento local era diferente e incluía burros, vacas e ovelhas como sistema de ar condicionado e não havia wi-fi disponível em todos os quartos.
É a luta de classes, diria o barbudo, mil e oitocentos anos depois. Esclareço aqui, para os mais distraídos, que não me refiro à simpática figura vestida com as cores de uma marca de refrigerante, mas ao outro.
Tudo isto é Natal, acompanhado por músicas a condizer e luzes a piscar. Por presentes que se trocam e abraços que se forçam.
Ainda assim gosto disto. Aliás gosto de estar vivo nesta altura do ano.
A minha prima Zulmira já me questiona porque carga d’água estou eu a fazer a crónica de Natal no dia 12 de Dezembro.
Minha querida prima, se ligar as luzes de Natal a 6 de Dezembro pode dar origem a golpe de estado, imagina se eu me atrevesse a escrever esta crónica na quinta-feira a seguir ao dia. Receio que me pendurassem por um qualquer sítio que provocasse dor.
Bem, já me estou a adiantar com a crónica da Páscoa.
Até para a semana